São tantos detalhes para conferir antes de uma viagem internacional que muitos se esquecem ou acabam sem tempo de fazer uma lição de casa básica: estudar um pouco da cultura local. Apesar de não ser motivo para deportação – nem algo que estrague o passeio -, o lapso pode, sim, deixar o viajante em situações constrangedoras. Sabe aquele gringo que fala palavrões sem perceber e age de maneira estranha, às vezes até mal-educada? Bem, aos olhos dos outros, esse pode ser você.

Isso porque algumas atitudes normais e automáticas no Brasil são consideradas invasivas e desrespeitosas em outras culturas. O estudante Felipe Oliviero, de 18 anos, sentiu isso na pele quando fez intercâmbio nos Estados Unidos, no início do ano. Ele teve uma surpresa desagradável ao chegar à escola e cumprimentar as meninas com beijinhos. “Elas davam um pulo para trás e perguntavam: ‘O que é isso?’ Para elas, parece que você está abusando quando faz isso.”

Se Felipe estivesse num país árabe, ele é que poderia ter tomado um susto, porque os homens costumam trocar beijos junto com o trivial “alô”. “Saber como são os cumprimentos no lugar onde você vai é muito importante”, diz a consultora de etiqueta Lígia Marques. “Também vale pesquisar quais atitudes do dia-a-dia podem ser consideradas grosseiras no seu destino. No Japão, por exemplo, falar alto e dar gargalhada pega mal e não se espirra ou assoa o nariz na rua. Na Alemanha, não é adequado cumprimentar alguém com uma das mãos no bolso. É falta de educação.”

Falando em mão, pegue sempre a comida com a direita, se estiver em locais como Índia, Marrocos, Arábia Saudita ou Tailândia. Isso porque é cultural por lá usar a esquerda apenas para fazer a higiene íntima. Na dúvida, evite qualquer gesto ou sinal com a mão quando estiver viajando: eles tendem a ter significados diferentes de acordo com o país. Na cultura muçulmana, por exemplo, o nosso sinal de positivo equivale a levantar o dedo médio por aqui.

LINGUAGEM

Apesar de não ser necessário aprender a língua de todos os lugares que for visitar, saber falar alguma coisa é sempre mais educado – nem que seja só “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Se for à França, capriche um pouco mais e leve um dicionário de frases. “Sempre tente usar o francês. Nunca use o inglês direto” diz a consultora Maria Aparecida Araújo, que dá aulas de etiqueta internacional para executivos. “Os franceses são mais frios e não tão gentis com estrangeiros.”

Além de saudações, pode ser uma boa idéia aprender alguns palavrões do local. Aí você não corre o risco de usar uma palavra parecida e causar mal-entendido. Uma das alunas de etiqueta de Lígia Marques não tomou esse cuidado e acabou passando bastante vergonha numa viagem ao México. “Perguntaram o que ela gostava de fazer e ela respondeu que adorava correr”, conta a consultora. O problema é que, em alguns países da América Latina, o verbo espanhol “coger”, cujo som é igual ao nosso “correr”, é uma maneira deselegante de se referir ao ato sexual. “Depois, perguntaram se ela corria muito, e ela disse que sim, que fazia isso todo dia. As pessoas davam risada e ela não entendia por quê.”

Para o estudante Guilherme Zagonel Silva, de 17 anos, o problema foi com a pronúncia. Nos Estados Unidos, ele quis fazer um elogio às praias, ou “beaches” brasileiras. Acabou errando a entonação e falando algo que em inglês é mais do que um insulto. “Quis dizer para uma garota vir ao Brasil porque aqui temos praias. Acabou saindo ‘vagabundas’. A menina me olhou com uma cara…”, afirma.

CONTENHA-SE

Como é impossível prever tudo o que pode ser ofensivo, Maria Aparecida Araújo aconselha os alunos a sempre manterem uma postura mais contida quando estiverem fora do País. “O visitante deve ver como os outros se comportam antes de se expor. Observar o contexto em que está. A pessoa que comete gafes geralmente está fora do contexto.” Em outras palavras, como já falavam os antigos, “Quando em Roma, faça como os romanos”.

Famosos dão dicas para evitar gafes

A atriz Sheron Menezes, de 22 anos, tremeu na base quando foi fazer a entrevista para seu primeiro visto americano, em 2004. Ela temia ter o pedido recusado e não poder ir conhecer a família do namorado, que mora nos Estados Unidos. Estava tão nervosa que até uma brincadeira feita pela entrevistadora, em vez de deixá-la mais tranqüila, piorou a situação. “Ela disse que só me daria o visto se eu contasse quem tinha matado o Lineu Vasconcellos”, conta a atriz, que estava na novela “Celebridade” da TV Globo. “Entrei em pânico porque não sabia quem era o assassino.” Mesmo assim, Sheron conseguiu seu visto e foi conhecer os sogros.

Esse famoso “friozinho na barriga” enfrentado pela atriz é praticamente igual para qualquer marinheiro de primeira viagem. Se a estréia no exterior traz uma carga de adrenalina e expectativas enormes, imagine o que sentiu a cantora baiana Margareth Menezes, que teve de praticamente despencar em Nova York, em 1991, ainda por cima sem saber uma palavra de inglês. “A gravadora me fez a proposta de ficar lá seis meses e tive duas semanas para decidir.” Hoje, ela acredita ser fundamental conhecer a língua do país de destino. “Na época, não havia tido a oportunidade de aprender, mas saber o idioma é importante.”

Que o diga a atriz Patrícia França, de 35 anos. Há quatro anos, quando soube que teria de ir ao Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha, por causa do filme “Orfeu”, sua primeira providência foi se matricular em um curso intensivo de espanhol. A preparação, no entanto, não evitou que ela passasse por situações, no mínimo, engraçadas. “Pedi uma maçã e o garçom me trouxe uma banana estranha. Depois, no hotel, me deram um café-com-leite frio e não queriam trocá-lo. Bom, aí tive minha primeira briga em espanhol”, conta Patrícia.

O vôlei foi o responsável por levar a jogadora Ana Moser, de 38 anos, a cruzar as fronteiras do Brasil pela primeira vez. Em 1984, Ana foi ao Chile disputar o campeonato sul-americano. Além da vitória no jogo, ela se esbaldou com os pêssegos chilenos. “Eles são deliciosos”, conta. Depois de tantas viagens com a seleção, a jogadora ficou experiente no assunto.”É legal utilizar a internet para descobrir itinerários sem depender dos pacotes das agências.”

Para a jornalista Lorena Calabria, de 42 anos, o segredo é se programar, mas sem se prender demais ao roteiro. “Deixe um espaço livre para visitar algum lugar inesperado”, sugere. Conhecer a família de seu pai e visitar a irmã, em Milão, foi o que motivou a jornalista a carimbar seu passaporte pela primeira vez. “Estive em Roma, Veneza, Florença… Me deu vontade de conhecer o país inteirinho!”