Imagem: reprodução batenborch.com

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Ultimamente, tenho usado muito os serviços Uber e Cabify. Entre idas e vindas, aproveito o meu tempo de deslocamento para checar mensagens, conferir e-mails, redes sociais, o que me faz permanecer mentalmente distante durante o trajeto. Apesar disso, na semana passada, vivi uma situação diferente. Não lembro ao certo como a conversa começou, mas o sr. José (nome fictício para preservar sua identidade) fez algum comentário que rapidamente me fez deixar o celular de lado para conversar.

Era uma terça-feira, 18h, e ele me contou que aquela era uma de suas poucas corridas do dia, já que havia começado a trabalhar às 17h e iria somente até as 19h. O motivo: logo que começou a trabalhar no aplicativo, ele passou a registrar todas suas corridas (dia, horário e trecho) e, em poucos meses, conseguiu criar uma planilha que o permitiu analisar os períodos de maior rentabilidade para trabalhar. Como terça-feira costuma sempre ser um dia de baixo movimento, vale a pena acionar o aplicativo somente ao fim do dia. Dessa forma, ele aproveita melhor o seu tempo com outras atividades.

– Que outras atividades, sr. José?

– Eu sou voluntário em uma ONG com o propósito de difundir a cultura italiana no Paraná, ensinando a minha língua nativa a crianças que não têm condições de pagar por esse estudo. Então eu aproveito as corridas para divulgar a ONG, contando aos passageiros sobre a minha atuação lá. Aceita uma castanha?

– Nossa, que chique, sr. José! Muito obrigada.

– Eu sempre tenho algo assim no carro para oferecer (além de água e bala), porque nesse horário as pessoas normalmente estão saindo do trabalho com fome e isso dá uma enganada no estômago. Eu gosto muito do que faço aqui e quero que as pessoas tenham uma lembrança boa do percurso que fizeram comigo. Tempos atrás teve um show na Pedreira, estava chovendo, e eu levei capas de chuva descartáveis porque sabia que os passageiros iam precisar ao sair do carro e também poderiam usar durante o show.

– O sr. é fora da curva, sr. José! Tem a visão de administração, sabe usar essa oportunidade do aplicativo como ferramenta para divulgação da ONG e ainda tem o olhar apurado para o consumidor. De onde vem tudo isso?

– Sou aposentado, já fui diretor de empresa estatal e hoje sou conselheiro de uma empresa. Faço isso porque gosto e porque é uma forma de manter financeiramente o carro, que ficaria parado na garagem dando apenas prejuízo.

Você deve estar se perguntando onde eu quero chegar com essa história. Quero dizer que o sr. José é um case de marca pessoal. Soube usar toda a sua experiência profissional para tornar mais inteligente e produtiva a sua passagem pelo aplicativo. Para desempenhar a função de motorista, ele precisaria apenas de um carro e de uma carteira de habilitação. Porém, o que ele faz além disso é o que lhe rende seu maior destaque: visão de negócio, postura adequada, imagem pessoal completamente alinhada e um verdadeiro propósito guiando a sua atividade. Ele se valoriza como profissional, tem consciência da sua entrega e gera uma experiência positiva a todas as pessoas que entram em seu carro esperando passar por apenas mais uma corrida. Um exemplo de que a diferenciação nem sempre vem do currículo, e sim da atitude.

O caso tem tudo a ver com a matéria que a minha querida amiga Deize Andrade, especialista em Estratégia de Marca Pessoal, publicou na mesma semana do ocorrido e reproduzo abaixo na íntegra:

 

“Se não lhe conhecem, não lhe reconhecem! Menos ainda, vão lhe escolher!”

Coisa que sempre ouvi muito nas empresas onde trabalhei foi reclamação do tipo “eu me dedico e não me reconhecem”, “estou aqui dando o sangue pela empresa e eles nem veem”.

Você já ouviu isso? Ou, quem sabe, é você mesmo quem chora?

Eu também tive uma fase assim. Só que um dia, no meio de um almoço, um diretor me disse para fazer um curso de vendas. Eu, espantada, escutei que me faltava saber vender o tanto de bom que eu fazia pela empresa. Naquele momento, percebi que eu esperava que vissem e reconhecessem meu maravilhoso trabalho, só isso. Até hoje, eu o agradeço e chamo de mentor, embora não tenha feito nenhum curso de vendas.

Como isso já aconteceu há muito tempo, ele falou em “vendas”, mas, na verdade, o que ele queria dizer era que eu não estava sabendo comunicar adequadamente as qualidades que eu tinha e o valor do meu trabalho.

Confesso que eu saí desse “modo reclamação” com um pouco de sorte, aquela que a gente diz que é o encontro da oportunidade com o talento. Mas nunca mais deixei de pensar no que aquele diretor tinha dito.

A minha virada aconteceu porque me ofereceram uma posição onde as minhas habilidades e a minha experiência eram totalmente compatíveis. Além disso, o grupo de interlocutores que eu teria era totalmente novo e realmente precisava, não apenas da parte técnica, quanto das minhas competências relacionais.

A partir daí, fui criando uma nova forma de me comunicar, o que me trouxe muitos ganhos até hoje.

Comunicação e marca pessoal

Nosso comportamento e nossas atitudes deixam rastro por onde passamos. As pessoas com quem convivemos, proximamente ou não, criam uma imagem a nosso respeito a partir do que comunicamos, do que conseguem ver ou entender que somos, e essa é a nossa marca pessoal. Como está na cabeça dos outros, o que podemos fazer é desenvolver-nos para que essa imagem formada seja a que fale do melhor que temos a oferecer.

Pra começar, três pontos que você deve considerar para estabelecer uma marca de valor, sendo então conhecido e reconhecido:

Consistência

Para ser conhecido, e quero dizer ser conhecido pelo que tem de bom, é preciso ter consistência na sua comunicação.

Você faz o que fala? Seu discurso e sua prática são os mesmos?

Você precisa se conhecer e saber o que entrega de melhor em cada lugar em que está. Faz parte também entender o que você não faz tão bem, as suas limitações. Amanhã, você pode desenvolver muitas habilidades, mas, se prometer hoje o que não tem, sua credibilidade desaparece em dois minutos.

Clareza

Você quer ser reconhecido pelo quê? Quais são seus objetivos?

Você precisa saber o que quer e comunicá-lo de maneira clara. Já passou o tempo de ter vergonha de mostrar o que sabe fazer, de dizer que quer uma promoção, de timidez na hora de oferecer um serviço. Você deve encontrar a forma que melhor expresse a sua oferta, de maneira que interesse a quem você estiver em contato. Também precisa fazer isso no momento certo. Algo como, mostrar como você pode ajudar a quem precisa ou deseja esse serviço, no momento em que aquilo que estiver sendo necessário. Comunicação clara!

Constância

Além de demonstrar clareza e consistência, o que você é e faz de melhor deve aparecer constantemente para criar confiabilidade. Suas ações evoluem, mas a base de tudo, os valores que lhe sustentam, devem estar sempre presentes para que a imagem que formam de você seja sólida.

Ainda que a imprevisibilidade pareça interessante, até faça a vida divertida de vez em quando, e nos ensine a lidar com a mudança, perceba que as pessoas em quem você confia são aquelas das quais sabe o que esperar. Portanto, seja você mesmo, coerente e consistente com seus princípios e comunique isso regularmente!

O que fazer para ser conhecido?

Aí vem a prova de fogo. Você precisa se expor e de maneira que lhe favoreça! Então lhe desafio a pensar.

Se tudo viesse dando certo, provavelmente você não estaria lendo esse texto. Se algo está falhando e você tem as reclamações de que falei no início, então pare! É hora de olhar pra si e entender o que está fazendo de mais ou de menos. Que comportamentos lhe estão ajudando e quais estão atrapalhando?

Como você é conhecido? Por quais características? Pelo bonito ou pelo feio que você faz?

Ou será que o que está acontecendo é justamente porque você não se dá a conhecer? Será que, como eu fazia, você se dedica, dá o seu melhor, mas está escondido atrás da tela do computador, esperando que lhe vejam e reconheçam?

Bem, a notícia que tenho para você é que, se isso já não funcionava há quase duas décadas, agora é que não vai dar certo mesmo! Sabe por quê? Porque a vida digital permite que todos se mostrem. Se você não fizer o mesmo, não será visto. E quem não é visto não existe, simples assim.

Então recapitulando: hora de analisar quem você é, explorar o seu potencial, e tratar de comunicar bem tudo aquilo que você pode contribuir, os resultados que já alcançou e os que pode alcançar. Trace uma estratégia de visibilidade para os meios que forem relevantes para você, ou para o seu negócio, se você for autônomo ou empreendedor. Implemente a sua estratégia e acompanhe os resultados. Se for preciso, ajuste.

E para ser reconhecido?

Ser reconhecido tem a ver com a reputação que você cria e leva algum tempo para isso. Mas lembra que falei de consistência e constância? As pessoas precisam lhe ver, entender no que você pode colaborar, que resultados você pode ajudar a conseguir e passar a confiar em você.

Quando você conquista a confiança daqueles com quem trabalha, pares, equipes, gestores, clientes, você passa a ser reconhecido pelo que tem a oferecer.

Não deixe de buscar ajuda se sentir que avança lentamente neste processo ou em alguns momentos não sabe exatamente o que fazer. Todo mundo passa por isso e a atitude mais inteligente é procurar por quem sabe mais em determinado campo.

Tudo isso dá trabalho, leva tempo, mas é o caminho para você chegar onde quer, ser escolhido para as oportunidades que lhe interessam!