Motivação para correr é algo muito pessoal, assim como os objetivos com o esporte. Algumas pessoas praticam pelo simples bem-estar gerado, enquanto outras visam derrubar desafios, seja uma maratona, uma meia maratona ou ser cada vez mais rápido em provas de 5 e 10 quilômetros. É curioso como cada pessoa tem uma relação com a corrida e nem sempre temos conhecimento disso.

Essa foi uma das razões pela qual recomendo o livro Correr – O Exercício, a Cidade e o Desafio da Maratona, do médico Drauzio Varella. A obra é uma daquelas experiências que vale a pena ser vivida por um corredor e para aqueles que pensam em se tornar  adeptos deste democrático esporte. Drauzio - CorrerDe leitura rápida, simples e agradável, em 206 páginas, o livro mostra alguns dos desafios vividos pelo médico em seus mais de 20 anos de corrida pelo mundo – ele já concluiu algumas das principais maratonas, como Nova Iorque e Tóquio, por exemplo.

Em uma mescla entre relatos pessoais de treinos e provas, especialmente maratonas, com informações médicas e científicas sobre o ato de correr e seus impactos e riscos para o corpo, e até mesmo uma pesquisa sobre a verdadeira história da Maratona (aquela, que envolve a Grécia Antiga), o médico consegue deixar qualquer corredor muito à vontade com suas experiências e, ao mesmo tempo, motivá-los.

Alguns capítulos chamam a atenção, especialmente o momento em que Dr. Drauzio – vou tomar a liberdade de chamá-lo pelo nome e não pelo sobrenome – mostra como é a rotina de uma maratonista profissional. Seu volume de treinos, as dificuldades, a necessidade de abrir mão de tantas coisas, como vida social, férias, uma alimentação menos controlada. Ao conhecer esse cotidiano, garanto que você vai evitar de criticar qualquer atleta profissional – de qualquer esporte.

É preciso se identificar

Neste ano, durante a maratona de Curitiba, quando voltava pelo viaduto da Marechal Floriano, no quilômetro 32, havia algumas pessoas ao lado da pista. Uma delas falou: “Vamos, Vinicius!”, e a pessoa do lado brincou: “Olha a cara dele, ele tá bem! Grita para quem parece mais cansado”. E eu me convenci de que estava bem! Mais tarde, quase no quilômetro 39, subíamos o viaduto do Capanema e uma menina foi extremamente hábil para se agachar e me entregar um geladinho, que é quase uma tradição naquele ponto da prova.

Nessa hora, ao contrário do momento anterior, percebi que minha expressão não devia ser das melhores, mesmo que me sentisse bem, considerando que corria há quase quatro horas. Meu relato é, de certa forma, próximo ao vivido pelo Dr. Drauzio em uma de suas maratonas: “Naquele trecho, cada curva da estrada parecia trazer o fim da ladeira, impressão frustrada ao atingi-la e constatar que a subida se prolongava até a virada seguinte. Foram quatro ou cinco curvas assim, já não recordo. Só ficaram as memórias do esforço, do frescor da mata virgem ao lado, do sol e da ambulância que passou por mim, com um rapaz de branco sentado na parte traseira, de porta aberta: “Tudo bem com você?”. Respondi que sim, ele insistiu: “Tudo bem mesmo?”. Fiquei impressionado com a organização: uma ambulância para saber como estava cada corredor. No entanto, para minha surpresa, o carro seguiu sem perguntar nada a mais ninguém, até sumir de vista. Achei estranho”.