Sabe quando você está no limite? Eu cheguei no meu faz uns 20 dias. Estava tão, tão esgotada que era difícil respirar. É como se um elefante tivesse sentado no meu peito. E eu tinha que andar com esse peso todo por aí.

Quando você se sente assim é difícil vislumbrar uma saída, né? Era assim que eu estava me sentindo, sentada na frente do computador, vendo tudo cinza, opaco e lutando para não começar a chorar.

Mas daí eu fechei o computador, desliguei o celular, peguei o iPod velho, pus meus tênis sujos e fui correr. Bem, correr não é uma definição exata. Andei mais do que corri. Mas andei/corri muito naquele dia. Eu ia andando e pensando que, uma hora, ia ter que virar e começar o caminho do volta. Mas fui adiando isso o quanto pude.

Quando finalmente voltei para casa, estava ensopada de suor, exausta. Deixei as milhares de coisas que ainda tinha que fazer de lado, tomei um banho longo, troquei de roupa e fui buscar meu filho na escola bem mais leve.

Desde então tenho repetido esse ritual pelo menos uma vez a cada dois dias. Falhei algumas vezes. Às vezes por não ter como adiar as tarefas do dia. Outras porque choveu. Mas na medida do possível, tenho conseguido manter essa rotina.

Quando alguém me pergunta porque estou fazendo isso, digo que estou tentando emagrecer. Normal, né? Mulher tá sempre de dieta. É verdade que preciso, sim, perder alguns muitos quilos. E talvez correr me ajude com isso. Mas agora minha jornada pelas ruas do bairro tem menos a ver com isso do que com a necessidade de ter um escape.

Veja bem, anos de terapia me ensinaram que não sou do tipo que revida, que demonstra sentimentos, desconforto. Quando estou triste, chateada, estressada, minha opção é pelo silêncio. As pessoas me agridem e eu fico quieta. Mas todo mundo precisa de um escape e o meu era a comida. Como se eu, na definição de uma psicóloga que me tratou, quisesse criar uma parede de gordura para me proteger.

O problema com isso é que engordar aumenta a sensação de fracasso, de ter perdido o controle sobre a própria vida. O que te empurra ainda mais para a depressão, a tristeza e a sensação de estar sem saída.

Correr não resolve nenhum dos meus problemas. Não faz ninguém ser mais gentil comigo. Nem dá conta de todo trabalho que tenho para fazer. Mas quando estou na rua tentando respirar e sentindo músculos que eu nem sabia que tinha, não consigo pensar em mais nada. É como se o mundo tivesse parado para eu respirar um pouquinho.

Antes de ter um filho eu costumava responder aos desafios da vida trabalhando mais, tentando compensar as coisas. Agora essa energia extra é gasta com meu pitoco. E quando a coisa aperta em outras áreas da vida o risco de você estourar com aqueles que você ama é muito grande. Eu não quero isso.

Só que é tão difícil equilibrar as coisas. Você vai engolindo as injustiças, as grosserias, a falta de solidariedade. Você se vê sozinho. O tempo é finito, o dinheiro é finito, a paciência é finita. A gente gasta um tempão e uma energia com tanta coisa que, na realidade, não vai nos servir de nada. São castelos de areia que desmoronam quando você mais precisa de abrigo.

Correr, como disse, não resolve nada disso. Mas tem a ver com dar um tempo para si mesmo. Com se perdoar, ter paciência e ser generoso com você mesmo. Porque cada dia, cada corrida é um novo dia. Não importa se ontem você não correu. O importante é que naquele momento o tempo é seu.

Quando corro, faço uma promessa para mim mesma de me perdoar. O que vale é voltar para a rua dia após dia. Se algo acontecer, e eu falhar, sei que amanhã é um novo dia e a rua ainda estará me esperando. Se um dia eu estiver mais cansada, posso só andar. Se eu correr e de repente me ver sem fôlego, posso começar a andar. O importante é não parar.

Muito pouco do que me coloca no limite nesses dias está sob o meu controle. Mas na rua eu que dito o ritmo, o caminho, a trilha sonora. Estou no controle, nem que seja só naquele momento. Sou dona de mim mesma. E estou no centro do meu mundo, uma só vez que seja.

Por enquanto, meu desafio diário é andar/correr por uma hora. Sem destino, sem marcar tempo, distância, peso perdido. Vamos ver até onde essa jornada vai me levar. O importante é que com isso assumo aqui, em público, um compromisso comigo mesma: não vou me deixar em segundo plano mais. Vou me dar um tempo, nem que seja só essa uma hora a cada dois dias.

Torçam por mim.