Se Roberto Santucci lograr viver mais uns 30 anos — nasceu em 1967 —, talvez consiga presenciar o próprio reconhecimento, como ocorreu com Carlos Manga. O rei das chanchadas da Atlântida só obteve muito depois aprovação para sua estética da paródia. Hoje, é impossível pensar o Brasil (e o cinema brasileiro) dos anos 1950 sem as chanchadas da Atlântida. Da mesma forma, o Brasil reflete-se nas comédias de Santucci. A mulher brasileira, o homem, a família, o sexo. Alguém poderá argumentar que, tudo bem, as comédias de Santucci espelham o País, mas não o problematizam. Seria um argumento, mas, de maneira geral, a crítica prefere cobrir os filmes do diretor de desaforos.

Como as novelas, as comédias têm de ter cenas filmadas no exterior, para ativar certo exotismo. Santucci foi a Las Vegas com Até Que a Sorte nos Separe 2, a Nova York com De Pernas Pro Ar 2 e agora ao Caribe com Qualquer Gato 2. É curioso que as ‘viagens’ estejam sendo pagas com o sucesso dos primeiros filmes. Também ensejam referências/encontros. Leandro Hassum encontra-se com seu ‘pai’ artístico, Jerry Lewis, em Sorte 2. Cléo Pires/Tati encontra-se com o pai de verdade, Fábio Jr., em Gato 2. A forma como o diretor filma as paisagens de Cancún é intrigante. E existem os mariachis. Entram como uma espécie de ‘coro’ (mexicano, não grego) para comentar a ação. São muito engraçados.

Vai ser uma pena se Gato 2 não bater o público do 1. Não é só melhor — é muito melhor. Mas isso os mal-humorados nunca vão reconhecer.