RODRIGO SALEM TORONTO, CANADÁ (FOLHAPRESS) – O Festival de Cinema de Toronto esquentou depois de uma abertura pouco animadora. Na sexta-feira (11), “Perdido em Marte”, novo filme de Ridley Scott, arrancou aplausos entusiasmados na primeira sessão para a imprensa mundial. Após uma série de obras pouco empolgantes nesta década (“Prometheus”, “O Conselheiro do Crime”, “Robin Hood”), o diretor de “Alien – O Oitavo Passageiro” e “Blade Runner” volta à boa forma nesta aventura espacial baseada no livro de Andy Weir. Matt Damon assume o papel de Mark Watney, astronauta americano que é deixado sozinho em Marte depois que sua equipe o considera morto em meio a uma tempestade. Como uma mistura entre o MacGyver de “Profissão Perigo” (1985-1992) e funcionário da Fedex de “O Náufrago” (2000), Watney precisa arrumar diversas formas de sobreviver no Planeta Vermelho por quatro anos -data da chegada de uma nova missão tripulada terráquea. “A história tem diversos ângulos, então senti que não ia matar as pessoas de tédio”, brincou Damon na primeira entrevista à imprensa mundial. “Quando li o roteiro na primeira vez, não acreditei na rapidez do texto. Precisei ler de novo para notar que era um plano de batalha [pela sobrevivência].” Assim como no livro de Weir, que virou um fenômeno depois do autor disponibilizar de graça no seu site oficial e depois vendê-lo ao preço mínimo na Amazon, “Perdido em Marte” não foca apenas o astronauta solitário. Boa parte do filme se passa na Terra, onde os planos para salvar o companheiro deixado para trás tomam forma na NASA. “O filme mostra que não podemos fazer tudo sozinhos. No fim do dia, precisamos uns dos outros para completar nossas missões”, disse Donald Glover, um dos especialistas espaciais que armam um plano mirabolante de resgate. A terceira parte do triângulo é formada pela Hermes, nave comandada por Jessica Chastain que leva a tripulação depois da saída emergencial de Marte -entre eles, Kate Mara (“House of Cards”), Michael Peña (“Homem-Formiga”) e Sebastian Stan” (“Capitão América”). “Sou o primeiro mexicano no espaço, pode anotar”, brincou Peña. “Fiquei feliz por ser um grupo tão diversificado”, completa Jessica. “Temos duas mulheres em seis membros. É um número melhor que o da NASA, já que as mulheres representam 10% das equipes.” Ridley Scott dosou as três narrativas de forma equivalente, um pouco diferente do material original, e o roteiro de Drew Goddard (“Demolidor”, do Netflix) aposta de forma certeira no humor -apesar da aparição de atores conhecidos como Jeff Daniels e Kristen Wiig em papéis menores desviar um pouco do realismo do texto. Os fãs também notarão mudanças um pouco radicais na segunda metade do livro, principalmente na travessia de Watney por Marte. “Não fiquei preocupado [com as mudanças] porque Drew sempre me envolveu no processo. Vi um corte do filme e passei os cinco primeiros minutos tentando não chorar. Sempre fantasiei ter um livro adaptado, mas nunca pensei que fosse acontecer de verdade”, contou Weir. Em compensação, todos os ingredientes da obra estão presentes nesta produção de US$ 110 milhões: a tiração de sarro com a disco music e séries dos anos 70 -único material deixado como entretenimento em Marte-, frases de efeito espertinhas (“Toma essa, Neil Armstrong”), clima otimista e a personalidade leve do astronauta botânico levada com perfeição por Damon. “Perdido em Marte” não é filme de Oscar, mas é a ficção científica mais divertida do ano.