Em Aliança do Crime, filme que estreia nesta quinta-feira (12/11) em Curitiba, o gângster James “Whitey” Bulger é um mafioso de Boston e faz uma espécie de delação premiada com o FBI, a polícia federal norte-americana. O enredo é quase todo baseado na relação de Bulger com o FBI, enquanto ele entrega seus concorrentes mafiosos em troca de imunidade. Loiro, calvície proeminente, olhos azuis, dentes estragados, Bulger é uma figura que, por trás de si, esconde o ator Johnny Depp, moreno, cabeludo, de olhos escuros e dentes perfeitos.

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Depp, assim, é o grande destaque do filme. Por ter abdicado da aparência em prol do personagem, há quem diga que ele é concorrente ao Oscar de melhor ator. Sua atuação no filme é boa. Mas, mais que boas atuações, o ator tem direcionado a carreira em personagens com aparências exóticas — e um loiro, meio careca,de olho azul é um tipo exótico para ele. Isso vem desde Eduardo Mãos de Tesoura, de 1990, o primeiro grande sucesso de sua carreira no cinema.

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Parte disso é culpa de Tim Burton, que o dirigiu em diversos filmes. Burton não é o diretor de Aliança do Crime (quem o comanda é Scott Cooper), mas é adepto de personagens bizarros – que normalmente exigem aparências exóticas. Indispensável é a pele branca. Como Eduardo Mãos de Tesoura. Ou como o Willie Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

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Se tiver olheiras, melhor. Como o vampiro freak de Sombras da Noite.

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Ou o Chapeleiro Louco de Alice no País das Maravilhas.

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Ou o sanguinário barbeiro de Sweeney Todd (com mechinha grisalha e tudo), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar – perdeu para Daniel Day-Lewis em Sangue Negro.

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Mas o personagem mais marcante de Depp é o capitão pirata Jack Sparrow, que protagonizou quatro filmes da franquia Piratas do Caribe.

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Depp afirmou que inspirou-se em Keith Richards para este look. E foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por A Maldição do Pérola Negra, o primeiro filme da franquia, de 2003 – perdeu para Sean Penn (Sobre Meninos e Lobos).

Dentro dessa seara exótica, o mais estranho seria Johnny Depp interpretar um cara comum, tipo um escritor que mora em Londres no começo do século 20. Sem maquiagem, sem pele branca, sem olheiras. Um escritor meia-boca que, ao conviver com crianças e suas brincadeiras, tem uma ideia sensacional para o que acaba se tornando uma obra-prima da literatura. Estranho, não?

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Mas isso foi Depp interpretando James Matthew Barrie em Em Busca da Terra do Nunca, de 2004. O papel como o autor de Peter Pan também lhe rendeu uma indicação ao Oscar – perdeu para Jamie Foxx, por Ray. No caso de Johnny Depp, o mais bizarro foi fazer um cara não-bizarro.