Imagine uma situação em que você tem a joia mais valiosa da história. Onde você a guardaria? Num cofre, a salvo de todos, ou em uma vitrine malprotegida? Ao contrário do que pode parecer, a CBF usou a segunda opção com a Taça Jules Rimet, o troféu mais valioso do futebol, conquistado em definitivo pelo Brasil em 1970. Aí, claro, num belo dia de 1983, alguém sacou que a vitrine era mal protegida. É a cara do Brasil. E temos o filme O Roubo da Taça.

A maneira com que a CBF guardou a joia mais valiosa da história do futebol é, por si só, uma piada pronta. A taça exposta na vitrine deveria ser uma réplica. Mas era a original, enquanto a cópia estava no cofre. Havia um vidro blindado para proteger a Jules Rimet, só que estava fixado em uma moldura com pregos facilmente removíveis. É a cara do Brasil.

Diz-se que a taça, após ter sido roubada, foi derretida, e que o receptador era Carlos Hernandez, um argentino (para tristeza brasileira). Ele e os comparsas até foram presos, mas acabaram soltos sem praticamente cumprir a pena. É a cara do Brasil.

O Roubo da Taça poderia ser um filme policial, que retrataria a perseguição aos ladrões. Poderia ser um filme existencial, de mea culpa pelo Brasil ter perdido essa joia. Poderia ser até um filme de futebol. Mas aposta mesmo na comédia rasgada, meio chanchada. Na cinematografia brasileira, era um estilo comum nos anos 80, época em que a taça foi roubada. O pináculo desse estilo no filme é o casal Peralta (Paulo Tiefenthaler), um jogador compulsivo, malandro incorrigível, que vai se envolver no roubo, e Dolores (Taís Araújo), que está ali para narrar a história (e para remeter a gostosona clássica). O estilo caminha entre o riso inteligente e o escracho. Expressa bem a esculhambação generalizada. Que tal tentar mobilizar as Forças Armadas para encontrar a taça, quando não foi possível protegê-la nem de ladrões de quinta categoria? É a cara do Brasil.