‘Blade Runner – O Caçador de Androides’ foi um sucesso tardio. Quando lançado, em 1982, o visual carregado e o tom pessimista contrastavam demais com outras produções de ficção científica da época, como ‘ET’ e a saga ‘Star Wars’. Para piorar, a produção foi um balaio de brigas entre diretor, produtores e atores. Além disso, o ator Harrison Ford sempre criticou o personagem Rick Deckard e jamais o valorizava, ao contrário do que fazia com Indiana Jones e Han Solo, seus papéis mais famosos no cinema e que estavam em alta naquela época. Mas ‘Blade Runner’ foi redescoberto quando lançado em vídeo e tornou-se cult. E Deckard voltou à telona anos depois, a exemplo de Indiana Jones e Han Solo. Ele está em ‘Blade Runner 2049’, que estreia nesta quinta-feira (5/10) em Curitiba.

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O primeiro Blade Runner se passava no ano de 2019 e mostrava um futuro distópico, com o planeta Terra semidevastado e habitado apenas pela escória e por androides replicantes – os quais eram caçados pelos Blade Runners, força da qual Deckard fazia parte. O filme se desenrola em meio a uma Los Angeles noir e termina com Deckard indo embora (não diz para onde) com uma das replicantes, Rachael (Sean Young), que, segundo ele, era “diferente” (esse spoiler prescreveu). O planeta Terra está atualmente em 2017 e, felizmente, não está nem perto dessa realidade, mas isso é outra história.

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Como o próprio nome indica, ‘Blade Runner 2049’ salta 30 anos no futuro – na realidade do filme de 1982, obviamente. A corporação que construía os replicantes faliu, houve um blecaute monstruoso que zicou quase todos os dados digitais e o espólio foi adquirido por um misterioso sr. Wallace, um milionário do ramo da agricultura sintética. Os caçadores de androides, contudo, ainda existem. E o protagonista não é mais Harrison Ford. O posto pertence a um outro Blade Runner, K, interpretado por Ryan Gosling. Depois de “aposentar” (um eufemismo para exterminar) um replicante em uma fazenda nos arredores de Los Angeles, o caçador se depara com um problema: ao que tudo indica, uma replicante deu à luz uma criança humana, ainda no ano de 2021. Contudo, ela não sobreviveu ao parto e foi enterrada perto de uma árvore. Segue-se a partir daí uma corrida para encontrar essa criança. Por um lado, sua existência põe em xeque a estrutura social da ainda mais decadente Los Angeles. Por outro, ela é de grande interesse para Wallace (Jared Leto), que enxerga ali uma oportunidade para catapultar a demanda por replicantes de uma forma jamais vista. K faz uma busca por conta própria e descobre que Deckard pode ter as respostas. Mas não é o único a ir atrás do antigo caçador.

‘Blade Runner 2049’ presta grande reverência ao filme original, mas a história flerta também com elementos de ‘Minority Report’ – também escrita originalmente por Philip K. Dick, cujo conto ‘Os Androides sonham com ovelhas elétricas’ foi a base para o roteiro do primeiro ‘Blade Runner’. K tenta encontrar respostas ao mesmo tempo em que é caçado pelas autoridades vigentes, tem em um holograma (Joy, interpretada por Ana de Almas) seu único desafogo e possui uma lembrança específica que o atormenta. Ao mesmo tempo, o filme acena o tempo todo com uma dúvida: K é um replicante? Ou K é um humano? A pergunta “quem sou eu e qual meu papel no mundo?”, que norteou o filme original, acaba sendo o maior vínculo com o filme novo.