Foi com a autoridade de mulher, terceiro mundista, que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, subia à tribuna das Nações Unidas, entidade criada para justificar as eternas e recorrentes injustiças praticadas mundo afora em séculos e séculos de espoliação e escravidão.
Vestida pela armadura de perseguida política e torturada por uma ditadura de chumbo, a presidente Dilma reverberou a voz dos excluídos do mundo inteiro. Com clareza de idéias e convicção de pensamento, ela falou por todos nós, que somos, dia a dia, vítimas de um sistema excludente, perverso, disfarçado em uma equivocada democracia que ela também representa.
Fica o registro das palavras ditas no mais alto púlpito criado e defendido pelos donos do mundo. Fica a certeza de que nem todos são inteiramente submissos, covardes, convenientes, servis. Fica o registro de que alguém está atento a tudo e que está disposto a denunciar, ainda que haja muita injustiça praticada em nosso país e que são silenciadas por um governo complacente e leniente com os desmandos que se praticam por aqui.
Em um discurso de 24 minutos, no mais simples português, interrompida seis vezes por aplausos, a primeira voz feminina a abrir uma Assembleia Geral das Nações Unidas falou pelos desvalidos do mundo inteiro.
Em suas palavras é a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo. Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.
Representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras. Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje. Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.
O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional. O mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis.
O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo. 44 milhões na Europa. 14 milhões nos Estados Unidos. É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do planeta.
Estas são verdades de agora, que alguém ousou apontar e denunciar, com a salutar constatação de ser uma mulher e, brasileira!

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor