Cuzco é mesmo – como revela a tradução do quíchua Qosqo – o umbigo do mundo. Guarda vestígios inabaláveis da civilização inca, mas tem ar de colônia espanhola. Recebe todos os anos milhares de turistas dos quatro cantos do planeta, e ainda exibe o colorido do povo andino. A antiga capital do mais conhecido império pré-colombiano sempre foi ponto de encontro entre nações. E as expressões dessa miscigenação estão na rua e, principalmente, na arquitetura.

A origem da cidade está relacionada à lenda do casal mítico Manco Cópac e Mama Ocllo, que a pedido do deus Sol emerge das águas do Lago Titicaca, na Bolívia, para fundar a capital. Cuzco ganhou praças, templos e fortalezas imponentes, um esplendor que acabou com a chegada dos espanhóis, em 1533. Os colonizadores destruíram ou utilizaram as antigas estruturas como alicerce para igrejas e conventos.
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O resultado dessa estranha combinação é incrível porque muito da arquitetura original resistiu. Um dos melhores exemplos está no Convento de Santo Domingo, erguido sobre o Koricancha, templo dedicado ao Sol – dizem que os muros eram recobertos com ouro. As estruturas de pedra polida serviram como base para o convento e seguram arcos renascentistas e uma torre barroca.

A estreita Rua Hatun Rumiyoc é charmosíssima, mas virou atração turística por causa de uma única pedra. Não qualquer pedra, mas uma com 12 ângulos. Ela é parte do muro que formava um antigo palácio e prova o domínio arquitetônico dos incas – grandes pedras cuidadosamente encaixadas são mais resistentes a terremotos.

É essa rua que leva ao pitoresco bairro de San Blas, de onde se tem a melhor vista da cidade, com os Andes de pano de fundo. San Blas exibe ruas estreitas, velhos casarões coloniais e (adivinhem!) muros de pedra. É o bairro dos artesãos e esconde pequenos ateliês e lojas.

Já na Praça de Armas, o cartão-postal de Cuzco, impera o estilo colonial. Basta entrar na Catedral para observar altares de cair o queixo, esculpidos em madeira. A igreja, construída entre 1560 e 1664, conta com uma grande coleção de pinturas da escola cusquenha. Aí, sim, os quadros mostram o sincretismo desse povo: numa imagem que reproduz a Santa Ceia, por exemplo, Judas Iscariotes tem as feições do conquistador espanhol Francisco Pizarro e, à mesa, é servido porquinho-da-índia, prato típico dos Andes.

A vida social de Cuzco ocorre ao redor da praça. Nas casas coloridas funcionam cafés, restaurantes e bares que lotam à noite. Por ali caminham as cholas e suas lhamas, prontas para uma foto. Também vendedores ambulantes insistentes.

Cuzco convida a todos esses passeios a pé. Mas vá com calma: você está a 3.399 metros de altitude. É importante andar devagar, respirar fundo e beber chá de folha de coca para afastar o soroche (mal de altura, caracterizado por enjôo, tontura e dor de cabeça).

Ruínas nos arredores

Uma vez em Cuzco, faça o circuito arqueológico pelas ruínas que ficam nos arredores. Puca Pucara era uma construção militar. Kenko, um centro de ritual. E Tampumachay, um local de culto à água, que até hoje mostra o conjunto de aquedutos esculpidos em rocha.

Nada, porém, impressiona mais do que a arquitetura militar da fortaleza Sacsayhuamán. Erguida com blocos de granito tem três terraços superpostos e pedras de até 5 metros de altura. É ali que moradores e turistas se reúnem todo mês de junho para o Inti Raymi, a festa em homenagem ao Sol.

Na internet: www.peru.Info