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CÁSSIO STARLING CARLOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mostrar trapaças que empresas fazem para nunca ter prejuízos e a cumplicidade de funcionários que obedecem com medo de perder o emprego. O tema sugere um filme de denúncia, mas “A Garota do Armário” prefere tratar estas questões em registro ameno.
Para isso, o roteirista e diretor Marc Fitoussi adota o olhar de Anouk, garota de 14 anos que, como tarefa escolar, cumpre estágio na grande empresa de seguros onde sua mãe trabalha.
O título brasileiro, demasiado discreto, evoca o lugar reservado a Anouk em sua primeira experiência de emprego. O título original, “Maman a Tort” (mamãe errou), além de mais incisivo, afirma que essa história tem um ponto de vista e um julgamento.
A perspectiva de Anouk dá a ver a burocracia, também conhecida como “organização do trabalho”, como um conjunto de absurdos e desperdícios. A observação que a jovem faz do mundo profissional revela o quanto muitas vezes o trabalho não tem nada de produtivo, apenas consome tempo com atividades que serão refeitas no dia seguinte ou por outra pessoa.
O filme, porém, não se satisfaz com esse olhar irônico sobre uma condição da vida moderna que cumprimos com automatismo.
A personalidade ingênua de Anouk completa-se com a bondade natural, o que a leva a tentar ajudar a imigrante marroquina Sabrina, mãe de duas crianças que podem ficar sem teto.
À medida que avança, a garota percebe como a lógica da corrupção funciona e transforma todos em cúmplices.
Fitoussi, conhecido por ligeirezas como “Copacabana” e “Um Amor em Paris”, prefere não se limitar ao cinema de agenda tão praticado hoje. Ao mesmo tempo que tem um viés político e moral, “A Garota do Armário” procura expor as dificuldades econômicas e afetivas da mulher que cuida sozinha da família.
Também inclui elementos das histórias adolescentes, como a paixonite por um colega e a amiga possuída pela febre de consumir.
Tantas direções e possibilidades têm a vantagem de produzir um resultado leve, demostrando ser possível tratar de assuntos sérios sem fazer sermão.
A variação de ângulos, porém, produz uma indefinição que anula as boas intenções do filme. Em vez de enfatizar o foco, Fitoussi só exibe um catálogo de situações que se neutralizam, postas para atrair nichos distintos e sem avançar nenhum palmo para não comprometer o divertimento.

A GAROTA DO ARMÁRIO
(Maman a Tort)
DIREÇÃO Marc Fitoussi
ELENCO Jeanne Jestin, Emilie Dequenne, Camille Chamoux
PRODUÇÃO França/Bélgica, 2016, 12 anos
AVALIAÇÃO regula