O suspeito de matar a deputada britânica Jo Cox, Thomas Mair, 52, afirmou que seu nome é “death to traitors, freedom for Britain” (“morte aos traidores, liberdade para o Reino Unido”, em inglês) durante audiência na Corte de Magistrados de Westminster, em Londres, neste sábado (18). Quando perguntado novamente sobre seu nome, ele repetiu as mesmas palavras, seus únicos comentários durante toda a audiência, que durou 15 minutos. O suspeito também se recusou a dar seu endereço e data de nascimento.

Favorável à permanência do Reino Unido na União Europeia, a deputada Jo Cox, 41, foi morta a facadas e tiros na quinta-feira (16) em uma rua do vilarejo de Birstall, no condado de West Yorkshire, na Inglaterra. Usando roupas cinzentas e ladeado por dois guardas de segurança em sua aparição no tribunal neste sábado, o suspeito foi acusado pelos crimes de homicídio doloso, lesão corporal dolosa e porte ilegal de armas. Um relatório psiquiátrico “tendo em mente o nome que ele acaba de dar” deverá ser preparado, segundo a magistrada Emma Arbuthnot.

O suspeito será mantido sob custódia na prisão de Belmarsh, em Londres, até a próxima audiência na corte, marcada para esta segunda-feira (20). Nesta sexta-feira (17), a chefe interina da polícia do condado, Dee Collins, disse que o ataque parece ser “isolado, mas com Jo como alvo determinado”. Além da polícia, agentes antiterrorismo participam das investigações do homicídio. Testemunhas afirmam que, antes do ataque, o autor teria gritado “Britain first!” (“Reino Unido primeiro”, em inglês).

A frase é lema do partido homônimo, uma das mais radicais organizações de extrema-direita britânicos e favorável à saída do Reino Unido da União Europeia. O partido negou qualquer ligação com Mair. Porém, informações da ONG Southern Poverty Law Center sugerem que ele pode ter se radicalizado por conta própria. De acordo com a entidade, sediada no Estado americano do Alabama, há registros da relação do suspeito com o grupo neonazista americano National Alliance desde 1999. Na época, Mair gastou US$ 620 em livros da organização, incluindo publicações sobre como fazer pistolas, munições e bombas, além de títulos sobre supremacia branca. Além do registro da ONG, o jornal britânico “The Guardian” informou que o suspeito era assinante da revista “SA Patriot”, editada pelo grupo sul-africano White Rhino Club, pró-apartheid.

A entidade se diz contra as “sociedades multiculturais”e o “islã expansionista”. Tanto os ex-líderes da National Alliance, desarticulada em 2013, quanto os do White Rhino Club negaram qualquer relação com o suspeito. Parte deste material foi encontrado pela polícia na casa dele, em Birstall, afirma o “Guardian”. O irmão de Thomas Mair, Scott, disse ter se surpreendido com a inclinação política. “Ele não era violento nem tinha essa visão política toda. Eu nem sei em quem ele votou.” Scott afirma que Thomas tinha problemas psiquiátricos, mas que recebia tratamento. Ele não especificou quais seriam os problemas.

COMOÇÃO

A morte de Jo Cox provocou comoção política no Reino Unido. Devido ao crime, foi interrompida a campanha do plebiscito sobre a permanência na UE a uma semana da votação, na quinta (23). O Parlamento, cujas sessões foram suspensas devido à consulta popular, será reaberto na segunda (20) para um tributo à deputada. Nesta sexta, o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, visitou o local do crime junto com o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, opositor a seu governo. Em discurso, Cameron disse que a morte de Cox é motivada por intolerância, divisão e ódio. “Devemos afastar isso da nossa política, da nossa vida pública e da nossa comunidade.” E destacou a personalidade da deputada, elogiada pelos seus colegas por seu trabalho filantrópico. “O Parlamento perdeu uma de suas políticas mais brilhantes e apaixonadas, alguém que sintetizou o fato de que política é sobre servir aos outros.”