Chovem maquetes e projetos para um novo Couto Pereira – ou Coritiba Foot Ball Center, como se vende o último. É fato consagrado que o Coxa precisa de uma praça melhor, a exemplo do que tem o Atlético. Porém, cada onda de novos projetos, periódicos a cada ano e meio ou dois, ilude a torcida, machuca o ego, escancara realidades. Desta vez – ao contrário das negociações pré-Copa, que avançaram até a página dois e pararam – é uma questão de cenário nacional de que dificilmente algo sairá do papel. Não se trata de desacreditar a informação ou menosprezar a força do clube. É simples: não há dinheiro na praça.

Quem paga?
O Coritiba tem uma das maiores dívidas fiscais entre os clubes brasileiros: 124 milhões em impostos atrasados, estudo feito pelo Itaú BBA sobre o quão nocivo tem sido o modelo de gestão dos clubes aos cofres públicos. Existem outras demandas, como dívidas trabalhistas, folha de pagamento. Os patrocínios não são os ideais, o plano de sócios não está rendendo o esperado, mesmo com a adesão ao projeto Futebol Melhor, da AMBEV. As contas são muitas e o reflexo é visto em campo: há três anos, o Coxa passa sufoco com um elenco limitado, uma ou outra aposta e alguns garotos da base. Nesse ano ao menos tem um orçamento um pouco melhor, ainda restrito, e mantém os salários em dia – leia-se dentro de um limite tolerável de acerto. Nenhuma queixa, nenhum escândalo dentro do que se vê no futebol. Traduzindo: não tem dinheiro para um estádio novo, mesmo sabendo que precisa de um. O mercado também não ajuda. O dinheiro está escasso em todos os setores. A Lava-Jato tem em seus arquivos investigativos todas as grandes construtoras do País. Nenhuma iria se aventurar em uma obra agora, dentro de um mercado que não é muito promissor. O bonde passou, foi na Copa, e não foi com Pinheirão ou outras ideias faraônicas: era a Arena Atletiba, rejeitada por muitos, mas uma solução viável para a dupla. Reduziria dívidas de ambos ao mesmo tempo em que se tornaria um equipamento urbano com uso semanal. Aos poucos, o Atlético vai descobrindo como rentabilizá-la, com UFC e demais. Ao Coxa, será necessário destinar recursos para melhorar o bom estádio que tem, como feito no Setor Pró-Tork. Reconhecer limitações e não desperdiçar energias, até a próxima onda de viabilidade, é o caminho correto.

Copa do Brasil, a escolha
O Atlético meteu os titulares em campo pra ficar com a vaga, ontem, contra a Chapecoense. Fez uma opção pela Copa do Brasil ainda que tivesse vaga garantida na Copa Sul-Americana. Sofreu, mas conseguiu seu intento. Nos corredores do CT do Caju, explica-se a opção: viagens mais simples. Teoricamente, enfrentar os times da Sula, lados B da América Latina, é mais fácil do que encarar as potencias nacionais, como Corinthians ou Palmeiras, vice e líder do Brasileirão. Porém são jogos que o clube faz a cada semana. Viajará no máximo até a Paraíba, destino mais longe de Curitiba entre os clubes classificados – os confrontos sairão em sorteio. Poderá se dedicar melhor ao Brasileirão até que seja obrigado a escolher uma das competições. E terá que escolher: não tem elenco para brigar por título ou mesmo G4 nas duas. Tem um bom 11, com uma ou outra peça razoável. O Atlético pecou na janela ao não reforçar melhor seu elenco. Vai, de novo, apostar na base. É uma escolha justa pelo lado financeiro, mas que diminui pretensões. Porém ao menos está clara a estratégia. Transformá-la em vitória vai depender do desempenho dos atletas. Fora de campo, me pareceu uma escolha honesta e bem pensada.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão