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Opinião é igual bunda, cada um tem a sua. E, como ninguém sai por aí expondo suas partes íntimas, indica que não é necessário sair por aí – no mundo digital, principalmente – expressando o que pensa, como acha certo viver, respirar ou se alimentar.

A moda de dar palpite sobre o que não lhe condiz vem resultando no crescimento vertiginoso de uma categoria pouco simpática: a dos chatos de carteirinha! Aquele cidadão que tem prazer em praticar a verborragia mental.

Gente chata sempre existiu no mundo, desde a antiguidade. Vou até parafrasear Nelson Rodrigues, que dizia que “Os idiotas vão tomar conta do mundo. Não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Em tempos de redes sociais, eu adaptaria a frase célebre: “Os chatos vão tomar conta do mundo”. Na internet, inventaram um outro nome pro chato, o “hater”. Eu prefiro a terminologia antiga.

A principal característica do chato de carteirinha é o prazer em discordar. Como ele tem opinião formada sobre tudo, não basta dizer o que pensa sem ser consultado, é importante discordar de tudo o que não lhe agrada ou vá contra o que acredita. E o assunto nem precisa ser futebol, política ou religião, aqueles temas que, na pré-história, eram vetados nos almoços de domingo em família pra preservar a paz mundial.

O chato não está nem aí pra paz mundial, ele quer mesmo é que o circo pegue fogo. Ainda mais porque, na cabeça dele, no circo virtual ele pode atacar à vontade e permanecer incólume. Ele desconhece princípios éticos e morais básicos pra convivência social e acredita piamente que a internet segue como uma terra sem lei, onde pode falar o que bem entender sem consequência alguma. Sim, ele também é desinformado!

Claro que todo mundo tem suas chatices particulares e intransferíveis. Mas não é disso que estamos falando.

O chato de carteirinha é fácil de identificar: é o eterno reclamão. No verão ele se incomoda com o calor excessivo e, no inverno, é algoz do frio. Política então, está tudo sempre errado, alerta o doutor em gestão pública.

Ele tem sua pré-seleção de filmes, livros, músicas e piadas. Qualquer coisa fora dessa listagem não presta. Os argumentos contrários são ignorados com veemência, porque o chato não quer saber de outros pontos de vista. Ele não está nem aí pra aquilo que o outro pensa. Afinal, o mundo gira em torno dele e é isso que interessa.

Não tenho estatísticas em mãos, até porque a chatice é um conceito subjetivo. Mas lanço aqui a campanha por uma humanidade menos chata. Se você se identificou com algum dos itens acima, pense duas vezes antes de emitir sua opinião sem ser solicitado. E, se acaso se deparar com algum chato de carteirinha, ignore. O chato morre pela indiferença.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e, pra preservar a saúde mental, evita os chatos de carteirinha.