Uma simbiose mata a sede de Curitiba. Na Serra do Mar paranaense, onde a Mata Atlântica ainda resiste, cada gota de água formada pela “respiração” das árvores conta para abastecer as casas de mais de 1 milhão de pessoas na Capital. Na verdade vai mais além. Dois terços da água consumida na Região Metropolitana tem origem na Serra do Mar. Sem a Mata Atlântica, não haveria água suficiente para sustentar a Grande Curitiba. É uma simbiose porque se a mata não for protegida, as torneiras secam. Ontem, o mundo comemorou o Dia Mundial da Água.

“Uma árvore média coloca 150 litros de água no ar por dia”, conta o diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. São essas gotículas vindas da “respiração” da floresta que vão encharcar o solo, atingir o lençol freático e formar as nascentes, que depois originarão os cursos  d’água que chegam até a captação para consumo humano. Isso quer dizer que cada gota que sai das torneiras nas casas de 1,5 milhão de habitantes da RMC tem origem nessa “respiração-transpiração”. E o elo se repete  continuamente no enriquecimento dos mananciais.
Mas este é um elo é frágil, e pode se quebrar interrompendo a cadeia da sustentabilidade. O que existe de simbiose, existe também de paradoxo e incoerência. A Mata Atlântica, com apenas 7% de seus remanescentes originais, continua a ser um dos ambientes que mais sofre com a pressão urbana no País, e não é diferente no Paraná.
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“Ainda não existe uma percepção direta da população sobre essa relação com as matas.  A Mata Atlântica é uma fábrica de água”, comenta Mantovani. Na maior parte das vezes, as pessoas pensam na questão ambiental de maneira distante, e pouco dão importância para no que ela interfere em suas vidas. “A questão da água é o que relaciona mais diretamente a importância das florestas no dia-a-dia das pessoas, mesmo que elas não percebam”, continua o diretor da SOS Mata Atlântica, uma das mais importantes do Brasil.

Apesar dos remanescentes de Mata Atlântica no País ocuparem apenas 15% do território nacional, no seu entorno vivem 120 milhões de pessoas. São 3.400 municípios em 17 Estados que mantêm uma relação, às vezes tênue, com a Mata. “As áreas de mananciais estão comprometidas pela expansão urbana. Isso é preocupante”, continua Mantovani. “É isso que detona a floresta”. No Paraná existem apenas dois grandes remanescentes originais. Além da Serra do Mar, o Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste do Estado, mantém a mata nativa. O Estado inteiro já foi coberto pela Mata Atlântica.

“A preservação da floresta e a disponibilidade da água são duas coisas que andam paralelas. Tirou a mata, acabou a água, tanto em quantidade como em qualidade”, explica o  coordenador de produção de água da Companhia Paranaense de Saneamento (Sanepar), Agenor Zarpelon.

Na área de influência — ou convivência — da Mata se origina mais da metade das riquezas do País. As cidades jamais sairão. Mas precisam aprender a conviver com as florestas, com risco claro de se tornarem inviáveis. “São Paulo, por exemplo, busca água cada vez mais longe. E isso encarece a produção. Ela não tem mais de onde tirar (água)”, aponta Mantovani. São Paulo não resistiu à pressão, como se sabe. E a Grande Curitiba?