Na Região Metropolitana de Curitiba a pressão também é gigantesca. A região cresce a uma taxa de quase 5% ao ano, uma das maiores do País. O desafio para os próximos anos é como não deixar que essa pressão avance sobre as encostas da Serra do Mar. E mais, como abastecer de água esse contigente que cresce em ritmo acelerado.

Na RMC existe uma certa determinação para não deixar que isso ocorra, ainda que as ações ocorram de maneira descoordenada. Na linha de frente está o município de Piraquara. Com o título de “berço das águas”, guarda sozinha a incumbência de preservar a maior parte das nascentes e dos mananciais, que por sua vez são abastecidos na Serra do Mar. E é uma missão cumprida com prazer. “A população da cidade é engajada e, mesmo com a dificuldade de orçamento, abraça a causa. Nós sabemos da nossa responsabilidade”, diz o secretário municipal de Meio Ambiente de Piraquara, Gilmar Zachi Clavisso.
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O município tem simplesmente 1.162 nascentes, que alimentam ou formam os rios Piraquara, Iraí, Iraizinho, Itaqui, Atuba e Rio do Meio. Praticamente todo seu território é comprometido com a formação dos mananciais de abastecimento. Quase não há disponibilidade para a instalação de indústrias, e há um rigoroso controle municipal em relação ao meio ambiente. Até o Ministério Público Estadual tem uma ação que impede a instalação de qualquer tipo de indústria na cidade, tudo para proteger o berço.

Além disso, na Serra do Mar são atualmente 20 reservas ambientais — provadas e públicas — que também garantem uma certa proteção contra o avanço urbano. IAP, Ibama e a própria Sanepar trabalham para deixar a Mata Atlântica o mais intocável possível.

Acidental

Certo que atualmente sabemos da dependência que temos com a Mata Atlântica. Mas essa visão não existia há algumas décadas. Isso significa que o fato da Mata Atlântica ainda existir majestosa na Serra do Mar do Paraná não foi fruto de uma visão ambiental, mas de um acidente.

“Os remanescentes de Mata Atlântica no nosso Litoral são interessantes. Mas eles só restaram porque o terreno da Serra é acidentado”, lembra o biólogo Guilherme Karan, coordenador de projetos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), ONG paranaense com forte atuação na Serra do Mar e Litoral. “Mundialmente, a nossa Mata Atlântica é caracterizada como uma área de grande importância biológica”, diz Karan. E hídrica também.