Mesmo magoada, a escritora Lygia Fagundes Telles decidiu não processar a produção da peça “As Meninas”, que tem estreia prevista para hoje (3) no Teatro Laura Alvim, no Rio – apesar de idêntico título ao de um dos mais famosos romances da autora, o espetáculo traz histórias confeccionais da atriz e também escritora Maitê Proença. “Fui tomada por um acesso de cólera divina quando soube da notícia e, ainda de cabeça quente, pensei em levar a decisão para os tribunais. Depois, achei melhor não tomar nenhuma atitude. Apenas deixar evidente a minha decepção.”

A escritora foi surpreendida com a decisão de Maitê, que havia se comprometido a mudar o nome. “Infelizmente, não teríamos como apelar judicialmente, a não ser que Lygia tivesse criado uma palavra que fosse apenas dela”, conta a agente literária Lúcia Riff, que cuida da obra da escritora, agora reeditada pela Companhia das Letras. Coincidentemente, também é agente de Maitê. Lygia teme que a confusão possa atrapalhar a adaptação de seu romance para o teatro, o que deve acontecer em novembro.

Autora e produtora de “As Meninas”, a peça, Maitê Proença contou hoje ao “Grupo Estado” que enviou à Lygia os e-mails que trocou com a Eletrobrás, sua patrocinadora, e o Ministério da Cultura, que já havia aprovado a inclusão da peça na Lei Rouanet, na tentativa de trocar seu nome. Foi a burocracia que a impediu de fazê-lo, uma vez que a peça tinha data para estrear.

“Estou há três meses às voltas com isso e fiz todo o possível. Passei tudo para a Lygia; ela viu a dificuldade. Eu não ia perder meu patrocínio por causa de um nome. A imprensa existe para dizer que uma coisa é o romance da Lygia e outra a minha peça”, disse Maitê.

A atriz frisou que tentou mudar o título isso “por todo o respeito a Lygia e pelo que ela representa para o Brasil e para mim”. “Essa polêmica está roubando espaço da peça, que é linda.” Enquanto a peça de Maitê trata, entre outros assuntos, da morte da mãe, o livro de Lygia tornou-se um clássico por apresentar um retrato da ditadura através da delicada história de três meninas. “Esse nome é genérico, não é como ‘ornitorrinco’ ou ‘Irma Vap’.”