Era assim até algumas décadas. O casamento acabava, e a guarda dos filhos ia quase que naturalmente para a mãe. Há algumas décadas, poucos pais se propunham a brigar na Justiça pela guarda dos filhos. Há algumas décadas, pais e mães eram diferentes. Nas últimas décadas, a situação começou a dar sinais de mudança. Ainda que tênue, houve uma clara predisposição do pai em ficar com a guarda dos filhos, fator que se mantém nos dias atuais. Se ainda não existem números que quantifique esse caminho, quem trabalha na área, confirma.

“O que existe é uma mudança de perfil tanto do pai quanto da mãe, quando eles se separam. A mãe sabe que também tem uma carreira para cuidar e o pai está mais disposto a assumir as tarefas com os filhos”, explica a presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, seção Paraná (IBDFAM-PR), a advogada Adriana Aranha Hapner, apoiando a tese percebida pelos advogados de Família.

Em 1998, o chefe de compras Edson dos Santos, hoje com 39 anos, se separou, e ficou com a guarda da filha do casal. Mayara, agora com 13 anos, tinha apenas dois quando os pais se separaram. “Temos uma ótima relação, somos amigos. A Mayara é a minha inspiração para acordar todos os dias”, conta. “Até aprendi a cozinhar”, brinca o pai. O paizão tem outro relacionamento, mas nunca deixou de ter a filha como prioridade.

Para ficar com a guarda, precisou adaptar a vida e até os costumes. “Eu tive o apoio da empresa que eu trabalhava na época, que compreendeu a situação e me deixou cuidar dela. Sozinho eu tinha que trocar fraldas, dar papinhas, preparar mamadeiras, trabalhar. Mas foi gratificante”, lembra. “Mais tarde, consegui colocar ela numa escolinha e foi justamente isso que me deu pontos positivos no momento da decisão do juiz para declarar quem ficaria com a guarda da criança”, acrescenta.

De acordo com Adriana, é exatamente essa dedicação que conta para a decisão judicial. “Os juízes levam em consideração o benefício que a criança vai ter, mas não é só na questão financeira, é também a questão de estrutura para o desenvolvimento dela”, afirma.
No ginecologista — O chefe de compras lembra-se de outras situações que ele precisou enfrentar, e para a qual teve que se adaptar também. A primeira vez que levou Mayara ao ginecologista. “Na sala de espera estavam as mães e suas filhas, e somente eu de homem aguardando. Quando a médica chamou a Mayara, ela esperava uma mãe acompanhar a filha e foi um misto de surpresa e contentamento da médica quando entramos eu e ela na sala de consulta”, conta Edson. “Ela nos disse que foi a primeira vez que um pai trazia sua filha para uma consulta ginecológica”, orgulha-se.

“Em épocas comemorativas na creche, como o Dia das Mães, pra Mayara não ficar triste, já que todas as crianças estavam com suas mães, eu estava lá, recebendo a homenagem, e isso era muito importante pra ela para não se sentir abandonada. Algumas vezes a emoção tomava conta e as lágrimas eram inevitáveis”, recorda.