Abre às 19h de 28 de outubro uma série de exposições no Solar do Barão, dentre as quais três com minha curadoria e intituladas: “Preservação da Natureza – O Desafio Contemporâneo”, “Formas e Arquitetura” e “Denise Roman – 30 Anos na Fundação Cultural de Curitiba”. (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 533 fone 41-321-3334).

Sobre a primeira, exposta no Museu de Fotografia Cidade de Curitiba o texto de apresentação fala sobre a sobrevivência da natureza como meta mundial imprescindível neste momento. Na verdade, já foi ultrapassado o ponto em que medidas paliativas poderiam garantir um retorno tranqüilo ao equilíbrio entre a exploração dos recursos naturais e o ser humano agindo como seu maior predador. Assim, nas fotografias de Claus Meyer, Manuel da Costa e Araquém Alcântara ainda podem ser encontrados aspectos intocáveis de rincões da mata brasileira e seus habitantes autóctones – com sua beleza captada na plenitude e harmonia de suas vidas nativas.   
A segunda exposição, localizada no mesmo museu, apresenta fotografias de Améris Paolini, Gustavo Moura, João Urban, Luis Humberto, Orlando Azevedo e Vilma Slomp que compõem um painel de formas que vai do contraste entre construções antigas e atuais às superfícies geométricas que se aproveitam dos cantos, sinuosidades e ângulos em composições abstratas recortadas pela câmera.

    E nas salas do acervo do Museu da Gravura Cidade de Curitiba: a graça, o encanto e a magia da linguagem artística de Denise Roman acompanham a profissional competente que há 30 anos trilha o desenrolar da história da gravura paranaense – como professora e como artista. Parte das gravuras em buril aqui expostas passará a integrar o Acervo do Museu da Gravura de Curitiba, doadas pela artista.

Aproveitando a deixa da exposição de Denise Roman que aí está, o assunto hoje é gravura – nome usado no geral para as obras de arte impressas em papel. Especificamente o termo gravura corresponde à obra executada retirando-se material da matriz como na gravura em metal, água-forte ou linoleogravura, enquanto que a terminação grafia (relativo à escrita) é usada para litografia, serigrafia – técnicas que se utilizam do acréscimo do material sem dano para a matriz.

Apesar da gravadora Denise Roman trabalhar muito mais com litografia e gravura em metal, hoje vou falar um pouco sobre a xilogravura. Diferente de outras categorias das artes visuais, como pintura e desenho, que mostram a obra do artista diretamente como ele a executa, a gravura mostra seu resultado final sempre do lado contrário ao que é feito. E também, dentre todas as técnicas, é na xilogravura (vem do grego xýlon = madeira), cuja matriz é em madeira, como o próprio nome diz, que as inversões se acentuam. Ela é trabalhada num pedaço de madeira cavado por instrumentos cortantes tipo goivas e formões, daí resultando uma superfície escavada que vai ser a geradora de tantas cópias da gravura quantas o artista quiser. Por isso ela é chamada de matriz e no dicionário o primeiro significado desta palavra é útero.

O passo seguinte é entintar com um rolo a matriz já cavada, cobrindo com tinta somente a superfície plana que restou na matriz, após o gravador ter esburacado os espaços em branco. Ao contrário de uma pincelada de preto ou traço de lápis que são constituídos de tinta escura que o artista vê, na xilogravura o gravador tira a parte branca. É como se o artista trabalhasse com um pincel de transparência, com a agravante que a madeira, uma vez cavoucada não tem como ser consertada. A seguir o artista ou o impressor, (existe esta especialidade profissional na gravura), vai colocar o papel sobre a matriz e apertar a superfície – geralmente com um instrumento chamado colher de bambu – para a gravura passar para o papel. Descolada da matriz se observa a imagem impressa invertida no papel, tal como a reflexão num espelho. Assim, as áreas têm que ser pensadas pelo gravador não sob o aspecto imediato das percepções normais, mas em função de um avesso total, várias vezes replicado.

Também convém lembrar que não existe na xilogravura nem o uniforme, nem o homogêneo e nem o opaco devido à presença da trama da madeira empregada. Os veios e os desenhos do lenho se fazem onipresentes, fabricando uma segunda textura, independente da executada pelo artista, e intimamente relacionada com a natureza. Isto dá à xilogravura uma densidade orgânica, que também é aproveitada pelo gravador.