Às vezes, um retorno ao passado acaba por se tornar tão contemporâneo quanto algum dos mais recentes avanços na tecnologia de imagens. Um exemplo disso pode ser visto no Museu Oscar Niemeyer, onde o curador Antonio Carlos Abdalla criou uma ambientação especial para a exibição dos trabalhos do arquiteto, artista e paisagista Burle Marx. Nascido em 1909, na cidade de São Paulo e tendo falecido em 1994, aos 84 anos, no Rio de Janeiro, ele é agora homenageado em 2009 pela passagem do centenário de seu nascimento.  De 1928 a 1929 estudou pintura na Alemanha, tendo sido freqüentador assíduo do Botanischer Garten Und Botanisches Museum Berlin-dahlem, o mais antigo jardim botânico alemão, onde se encantou com a flora brasileira cultivada em estufas por causa do clima europeu. Seu primeiro projeto paisagístico foi para a arquitetura de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, em 1932, passando a dedicar-se ao paisagismo, paralelamente à pintura e ao desenho.
Burle Marx teve Portinari como mestre de pintura, logo depois de ter concluído sua formação acadêmica em arquitetura. Apesar do seu desejo em se tornar mais conhecido como pintor, acabou sendo o mais importante paisagista brasileiro e um dos mais conceituados no mundo. Na verdade, sempre comento que Burle Marx foi e é o único paisagista do Brasil, pois até agora nenhum outro conseguiu alcançar o âmbito do seu conhecimento, sensibilidade e intuição. Ele criou o que se pode denominar de “paisagens e jardins brasileiros” ao explorar a estética e a riqueza de nossa flora, destacando as composições paisagísticas estendidas ao nosso olhar, tais como fez com os jardins da orla do Flamengo no Rio de Janeiro. Porém, nem todos sabem que, em sua trajetória brilhante e construída ao longo de décadas, Burle Marx deixou também um valioso legado em pinturas, esculturas, tapeçarias e desenhos de jóias. Foi reconhecido no meio pela sua produção em artes visuais, mas ainda pouco conhecido pelo grande público, embora o artista tenha obras suas em várias partes do mundo.
Aqui, o Museu da Gravura Cidade de Curitiba possui em seu acervo uma coleção das gravuras do artista, doadas pela Shell do Brasil em 1992, no tempo de Lúcia Camargo como presidente da Fundação Cultural de Curitiba e de Uiara Bartira na direção do museu.

Então, a respeito da mostra do artista-paisagista, cerca de 100 trabalhos estão expostos no que Abdalla define conceitualmente como “apresentar uma amostragem de períodos destacados da obra integral do artista, utilizando como foco central o Burle Marx artista plástico… A exposição no Museu Oscar Niemeyer foi uma opção minha como curador, para uma mostra antológica.”
A montagem da exposição é baseada nos grandes cicloramas, consagrados principalmente no século 19, como visões panorâmicas de locais e cidades, em especial do Rio de Janeiro visto circularmente em 360º. O curador conseguiu um efeito original que faz com que o visitante seja confrontado tridimensionalmente com a obra de Burle Marx. Nesta recriação estão presentes todas as vertentes da arte e da criatividade do artista plástico-paisagista. Não é por menos que o título da mostra é “Paisagem Monumental”.

Abdalla também incluiu um núcleo histórico na exposição, no qual apresenta uma rápida amostragem de técnicas e períodos de sua obra plástica. Como destaca o curador: “Burle Marx é responsável por um verdadeiro ‘projeto pessoal’, planejado e realizado ao longo de décadas. É uma personalidade multifacetada. Há muito ainda a ser descoberto em seu trabalho”.
Não se pode esquecer que, além de ser um ecologista como o pioneiro Emílio Goeldi no Pará, o artista também colaborou na conceituação de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para a construção de Brasília. Inclusive, a casa de Burle Marx, no paradisíaco Sítio de Barra de Guaratiba, constituído por 365.000 m2 no Rio de Janeiro, foi projetada por Lúcio Costa. Este sítio, comprado em 1949, onde ele cultivava uma grande quantidade de plantas nativas foi doado em 1985, ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Em 1955 fundou a firma BURLE MARX & CIA LTDA., para elaborar projetos de  paisagismo, executar e manter jardins residenciais e públicos. De 1965 até seu falecimento, contou com a colaboração do arquiteto Haruyoshi Ono, que hoje dirige a empresa. No Museu Oscar Niemeyer (Rua Mal Hermes, 999 Centro Cívico fone 41-3350-4400 Site: www.museuoscarniemeyr.org.br)