À primeira vista, parece tratar-se de um simples pilar de concreto. Mas, ao se aproximar da obra de Geraldo Zamproni pode-se notar que há algo estranho. Um brilho metálico envolve as junções entre os módulos.
 Dentre mil maneiras possíveis para juntar peças de concreto que pedem uma solução à engenharia, o artista escolheu justamente um zíper! E é neste ponto que se mostra a complexidade da sua linguagem artística – a metáfora de materiais – em que o pilar é uma peça feita de poliuretano e o zíper é o mesmo usado em roupas.                 
Zamproni é arquiteto de formação, porém seguiu o caminho das artes visuais, revelando-se um excelente artista. Participando de muitos salões e recebendo prêmios, ele vem conquistando seu lugar entre os mais criativos artistas do Brasil.
São notáveis seu empenho e dedicação na elaboração de cada obra de arte que sai de suas mãos. Unindo a parte técnica de projeto proveniente da arquitetura à sua extrema imaginação e inventividade, o artista faz uso de um instrumental raramente encontrado entre as artes visuais brasileiras, pois fabrica – por assim dizer – cada peça empregando materiais diversos e técnicas que inventa para realizar cada obra de arte elaborada antes em projeto.
Geraldo transita com facilidade entre múltiplos universos de conhecimento, de estudo e “weltanschauung”, traduzido do alemão como concepção e/ou filosofia de vida. No sentido prático, ele é um artista habilidoso que gosta de fazer e de manipular suas obras de arte.
Ele inova, e não somente em suas criações, pois além de extremamente criativo também é um inventor. E não emprega mão de obra alheia, como fazem muitos artistas quando encomendam peças inteiras levados pela facilidade da aquisição de objetos prontos.  A partir da concepção mental, a obra é realizada por ele mesmo até o último toque ou pincelada de tinta. Isso implica na procura dos materiais próprios para a execução da idéia e na resolução de problemas que vão se revelando à medida que o trabalho vai sendo executado, uma vez que sua arte se caracteriza pela individualidade. Cada obra que sai de sua imaginação representa e se apresenta como um desafio para ele na passagem da idéia para a realidade.
Para Zamproni, os trabalhos da criação e da resolução da obra têm que ser mentais, pois se ele faz esboços e projeto, a obra de arte acabaria por ser finalizada no desenho e não na tridimensionalidade e, consequentemente, não haveria razão de construí-la.   Ele possui qualidades específicas que o ajudam em sua arte: aquela procura pelo saber, aquela ansiedade para aprender, o olhar para o desconhecido e a ousadia para encontrar soluções.
O artista trabalha de maneira conceitual, lidando com materiais diversos que se mostram complexos em sua preparação. O seu processo criativo se dá pela procura e conseqüente uso de materiais que possam ser utilizados para reproduzir de maneira intencionalmente alterada muitos dos objetos do cotidiano. Sempre atuando na tridimensionalidade, o artista subverte estes mesmos objetos de maneiras tão sutis e diferentes, que eles – além de penetrarem no universo artístico – passam a surpreender ao se apresentarem como incógnitas. Outras vezes, suas obras são elaboradas em escala gigantesca, construídas de materiais inesperados, ou são cópias perfeitas de equipamentos, agindo como se fossem “erzatz” ou substitutos do real.
Assim, em paralelo ao aspecto “clean” dos objetos criados, o artista insere – aqui e ali – o que parecem ser toques de humor. Em outras palavras, Zamproni enuncia um trocadilho ou chiste em suas obras. É o que acontece nos trabalhos da sua “Série Sustentabilidade”, em que o artista parodia pilares e escada na ambigüidade do “ser ou não ser”. Um dos pilares que parece solidamente plantado não toca o chão, ou seja, quando o observador se aproxima percebe que o elemento é sustentado no ar.
Este tipo de deslocamento brinca com a percepção alheia e alcança um ponto de equilíbrio entre a aparente solidez de suas construções geométricas e a inserção lúdica de conteúdos estranhos em suas obras de arte.