Um dos grandes arquitetos do século 20 foi Charles-Edouard Jeanneret, mais conhecido como Le Corbusier, cuja linguagem estética é totalmente relacionada à maioria dos mais expressivos arquitetos brasileiros.  
Nascido em 1887, na Suíça, Le Corbusier é visto como um competente pesquisador dotado de espírito investigativo que era sempre utilizado quando havia necessidade de uma análise mais profunda de crítica. Muito viajado, ele também se tornou seu próprio divulgador ao difundir suas idéias e conceitos da arquitetura com a qual se consagrou.  
Estudou em Paris as características das construções executadas em concreto armado, técnica que mistura ferro e concreto – utilizada até hoje – e da qual se tornou um dos maiores inovadores ao conceber, desenhar e executar inúmeras obras que se mostravam ousadas na época. Le Corbusier não tinha medo de arriscar porque possuía uma base de estudos que lhe garantiam os resultados pretendidos, uma vez que dosava em seu pioneirismo as propriedades da mescla realizada com o concreto e o ferro. Para entender melhor, o concreto fornece a base de construção, porém é quebradiço quando solicitado a esforços significativos. Em contrapartida, o ferro possibilita a armação que vem a sustentar o concreto. A união destas duas forças é responsável por todas as obras de vulto realizadas nos últimos séculos, incluindo-se represas do vulto de uma Itaipu, prédios como o Empire State em Nova York – erigido no final da década de vinte e que manteve o título do mais alto do mundo por muito tempo – e o nosso Teatro Guaíra que resistiu às intempéries só no concreto armado durante anos até ter concluído o seu revestimento, sem esquecer do incêndio antes de sua inauguração. Voltando a Le Corbusier, agora a exposição de encerramento do Ano da França no Brasil, possibilitou a oportunidade de conhecer novos aspectos das inúmeras linguagens artísticas deste famoso arquiteto. Com curadoria de Jacques Sbriglio, uma exposição de 120 obras, entre desenhos, gravuras, esculturas, tapeçarias, colagens, pinturas e – como não poderia deixar de ser – maquetes e projetos de arquitetura, livros e fotografias, pode ser visitada no Museu Oscar Niemeyer. Segundo o curador, há sensíveis diferenças entre o arquiteto da pré-guerra e do pós-guerra: “Se os anos antes da guerra, principalmente entre as décadas de 1930 e 1940, confirmam um Le Corbusier teórico, de notoriedade internacional incontestável, os anos do pós-guerra correspondem à revelação de um grande criador. É durante o último período de sua carreira que Le Corbusier criará suas obras-primas mais relevantes: a Unidade Habitacional de Marselha, a Capela de Ronchamp, o convento de La Tourette, o edifício do Capitólio em Chandigarh na Índia…” Um dos fatores que também influenciaram seu design arquitetônico e a sua respectiva concepção de mundo que está por detrás de suas criações, foi o contato com o Brasil e com a nossa arquitetura. Assim, segundo Jacques Sbriglio: “Em sua obra existe um antes e um depois Brasil. O antes é o ‘purista’ a das mansões parisienses, e o ‘racionalista do edifício Clarté ou Molitor. O depois é o período ‘brutalista’ com o concreto armado como sua matéria prima e todo um vocabulário arquitetural que se implanta, a partir da utilização do brise-soleil que se torna para Le Corbusier, após o pilotis, a planta livre, a fachada livre, a janela em fita, e o terraço jardim, o sexto ponto da arquitetura moderna”. Comprovando seu sentimento para com nosso país há este parágrafo em sua correspondência: “Para este grande viajante, existem lugares privilegiados no planeta entre montanhas, planaltos e planícies com grandes rios que correm rumo ao mar; o Brasil é um desses lugares acolhedores e generosos que gostamos de poder considerar como um amigo”, Le Corbusier em 29 de dezembro de 1962, no Rio de Janeiro.

Serviço
No Museu Oscar Niemeyer até 07 de março de 2010 (Rua Mal Hermes, 999 Site: www.museuoscarniemeyer.org.br).

* Esta colunista retornará com a coluna no dia 26/01/2010