Continuamos o assunto da semana anterior sobre os dois livros de arquitetura paranaense que foram lançados no final do ano pela “Travessa dos Editores”, o de Marcelo Sutil intitulado “O ESPELHO E A MIRAGEM – Ecletismo, Moradia e Modernidade na Curitiba do Início do Século 20” e o livro de Salvador Gnoato “ARQUITETURA DO MOVIMENTO MODERNO EM CURITIBA”.
Esta publicação, do mesmo modo que a de Marcelo Sutil, faz parte da “Coleção A Capital” e tão logo foi lançada já se tornou também referência na área.

A análise tem início com a casa de Frederico Kirchgässner – a primeira moradia modernista edificada em 1930 e vai até o ano de 1965, quando da formatura da primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná ao mesmo tempo em que se contratava o Plano Wilheim-IPPUC para estudos e planejamento do desenvolvimento espacial da cidade.

O livro também concentra informações relativas ao despertar da cidade de Curitiba, passando pelo famoso Plano Agache – aí então uma primeira manifestação criteriosa de crescimento da cidade, graças ao qual Curitiba herdou espaço suficiente para a instalação do seu sui generis metrô de superfície.
É interessante uma comparação que faço com o metrô de Buenos Aires que já funcionava debaixo daquela cidade em 1917, sendo o primeiro metrô da América Latina. Verdade que aquele permaneceu nos mesmos moldes e infelizmente não foi modernizado, mas não se pode negar a sua primazia.  Sonho com o dia em que nossa cidade passe a contar com um sistema verdadeiro de metrô – como o nome “subway” diz – no qual não haja disseminação de gases tóxicos provenientes da queima de óleo diesel e a força motriz seja elétrica, aproveitando Itaipu e a Copel. Cidades brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro estão por um tempo significativo operando metrôs desta qualidade, que têm a vantagem do transporte em que o trânsito é interno e é controlado – uma composição metroviária tem tempo determinado entre uma estação e outra e além do mais não ocupa o espaço nas ruas que hoje se tornou precioso.  Não se pode nem pensar numa interrupção deste tipo de transporte vital em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Voltando ao livro, a segunda parte dele é direcionada à arquitetura moderna, passando da alvenaria eclética, do final do século 19 e início dos anos 20, para os primeiros arranha-céus em Art-Déco nas décadas de 1930 e 1940, para chegar à inovação das formas nas obras do Centenário do Paraná em 1953, quando o Governador Bento Munhoz da Rocha faz construir uma série de edificações e pavilhões no Tarumã, onde hoje funciona a Escola Militar de Curitiba.

O Movimento Moderno em Curitiba tem assim consolidada sua posição e as edificações se sucedem criadas pelos arquitetos Ayrton “Lolo” Cornelsen, Elgson Ribeiro Gomes, Jaime Wassermann, Leo Linzmeyer, Romeu Paulo da Costa e Rubens Meister, cuja formação é anterior ao advento do primeiro Curso de Arquitetura e Urbanismo no Paraná.  

    No livro, são analisadas 90 edificações, sempre com o autor Salvador Gnoato desenvolvendo comentários e comparações com obras no exterior. Com uma excelente programação visual que intercala imagens menores e ampliações, ora em preto e branco, ora a cores – elaborada pela Intro Design – o livro, além de propiciar um sólido material de leitura e informação, é de leitura muito agradável.
  
 Quero reproduzir aqui uma frase fundamental do arquiteto Elgson Gomes que consta da publicação: “Se tivesse que ensinar-lhes arquitetura hoje, diria para aprender a desenhar magnificamente bem, a dedilhar um instrumento musical magnificamente bem, a estudar uma língua universal fluentemente, a viajar incansavelmente e tentar ‘olhar’ e ‘ver’ tudo que está ao alcance da vista, a dominar os meios de comunicação gráfica, e se inter-relacionar com todos os que estejam na ponta do processo evolutivo em qualquer área do conhecimento, e que compreenda que nosso mundo está em expansão exponencial e transcende, em função do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, que é um mundo dinâmico em movimento, e que a arte estática pertence ao passado.”