A mulher mudou. Evidentemente, falamos das gerações nas quais estamos envolvidos; falamos de um passado ainda recente, e presente na memória da maioria. Todos os médicos, formados há pelo menos dez anos, podem constatar a mudança no perfil das pacientes. Elas questionam, discutem, buscam informações sobre sexo e anticoncepção, sejam casadas ou solteiras, de modo mais aberto e liberal do que antes. Mães trazem suas filhas para receber a mesma orientação que elas talvez não tenham tido, quando precisaram.



Além destes fatores, provavelmente o casamento mais tardio e a união de parceiros separados de casamentos anteriores também contribuem para a busca de gestação, em torno da época da menopausa.



Diante deste novo enfoque, sem dúvida, o médico deve reavaliar sua posição diante da mulher que deseja gestação na menopausa, pois a ovo-doação é uma realidade inconteste. Entendo que o princípio básico deste novo relacionamento médico-paciente deve, mais do que nunca, ser de aconselhamento, sem colocar seus próprios valores em jogo, pois a decisão deve pertencer ao casal.



A orientação deve ser a mesma dada para as mulheres mais jovens, ou seja, os exames clínico e ginecológico devem indicar ou contra-indicar, de maneira relativa ou absoluta, a gestação. Doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias devem ser observadas com rigor.



Homens com idade avançada têm seus filhos, sem serem questionados. Não devemos tratar este fato como regra, pois na realidade não o é. A questão é que a paternidade e a maternidade transcendem o parto, e indivíduos maduros, mas saudáveis física e mentalmente (aqui, sim, cumprimos nosso papel como médicos) devem ter consciência da responsabilidade que decorre deste ato, não só para com o filho, mas também para a sociedade.



* Dr. Newton Eduardo Busso é especialista em reprodução humana e um dos diretores do Projeto Beta – Medicina Reprodutiva com Responsabilidade Social.