Jornal do Estado — O transporte coletivo de Curitiba, visto anteriormente como modelo, vem perdendo usuários. Ao mesmo tempo, a cidade hoje tem a maior proporção de veículos por habitante das capitais brasileiras. O que aconteceu?
Rasca Rodrigues  — Quanto menos ruas, menos carros. Quanto mais pista de rolamento, mais carros. Copenhagen começou a adotar o calçadão, que nós copiamos, em 1962. Hojem tem 340 quilômetros de ciclovias. Em Curitiba, o que estamos fazendo hoje é o contrário. Privilegiando o transporte individual em detrimento do transporte público. Houve um retrocesso. Quando se fechou a rua XV os comerciantes também se revoltaram. Depois viram que lucraram mais. O gestor público tem que ter coragem de olhar à frente, e enfrentar essas situações. O que vemos hoje é que as políticas públicas são feitas para atender ao calendário eleitoral, não ao interesse da cidade.

JE — Como vê as polêmicas envolvendo as multas de trânsito?
Rasca — Nossa cidade é refém dessa receita orçamentária. O sistema é feito pura e simplesmente para a arrecadar. Não vemos campanhas de educação no trânsito, não vemos blitzes educativas, policiais abordando no sentido de educar. Por isso estamos vendo uma piora na cultura do trânsito.  Temos que morar em uma cidade que todos os dias seja um pouco melhor que no dia anterior. Caso contrário vai chegar um momento em que haverá uma paralisia geral.

JE — A atual gestão cortou verbas previstas para ciclovias.
Rasca — Dentro do conceito de cidade sustentável queremos mostrar que caminhar é a atividade mais importante da cidade. Com essa diretriz de olhar para a cidade segundo a escala humana. Tem que pensar de acordo com o tamanho das pernas. Isso em transporte, mas também em geração de empregos, indústria. Daí a proposta de criação de um distrito industrial metropolitanos. Curitiba não tem uma política de atração de indústria porque não tem mais espaço físico. Então a ideia é aproveitar o espaço que tem para serviços, tecnologia da Informação. Que obtenha um retorno. Grande parte dos empregos vai para lá (cidades da RMC). Um distrito industrial com a participação de cada cidade seja de acordo com o tamanho de seu investimento, com arrecadação compartilhada.