Os dados e informações disponibilizadas pelo Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), expõe alterações relevantes no padrão demográfico, em paralelo à avanços econômicos e à persistência de agudas contradições experimentadas pelo País, especialmente na área social.
Começando pela dinâmica populacional, a investigação permitiu apurar apreciável declínio da fecundidade, situando-se abaixo de dois filhos por mulher, o que é avaliado como insuficiente para a reposição durante a vida reprodutiva das pessoas, e substancial elevação da expectativa de vida e, consequentemente, da fração idosa da pirâmide etária.

A conjugação destes dois processos resultou no recuo da participação dos residentes da faixa entre zero e quatorze anos, de 35,0% em 1990 para 24,0% do total em 2010, e na subida dos idosos (sessenta e cinco anos e mais) de 7,0% para 11,0%, em idêntico intervalo, o que conduz a ideia de estagnação e até compressão do volume de população total, a partir de 2040.
No terreno das estatísticas econômicas e sociais, notou-se que apesar da recuperação dos níveis de atividade verificada a partir de 2004 ter propiciado elementos objetivos para a intensificação de movimentos de mobilidade social, com o alargamento da categoria C da pirâmide – que percebe rendimento mensal familiar entre R$ 1.115,0 e R$ 4.807,0, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) -, que passou de 42,0% da população em 2002 para mais de 55,0% em 2010, uma impulsão mais sustentada da qualidade de vida das pessoas ainda esbarra nas precárias condições de infraestrutura de saúde e educação.

Essa discrepância pode ser facilmente comprovada pela observação da evolução do atendimento com rede de esgoto ou fossa séptica e do estoque de equipamentos domésticos nas residências brasileiras em dez anos. Enquanto a utilização de esgoto subiu de 62,2% do total em 2000 para 67,1% em 2010, a presença de computadores passou de 10,6% para 38,3%, a de máquinas de lavar de 32,9% para 47,2%, a de televisores de 87,2% para 95,0%, e a de automóveis de 32,7% para 39,5%.  

A lentidão da marcha de ganhos nas condições de saneamento repousa na fragilização da capacidade de investimento do estado, nas barreiras impostas à montagem de um conjunto de regras claras e estáveis, contidas em um aparato regulatório, e na diminuta visibilidade eleitoral conferida por obras públicas empreendidas neste setor.

É claro que o maior acesso aos bens duráveis de consumo possui raízes na disparada dos níveis de renda, graças à combinação de duas correntes virtuosas. De um extremo emerge o encaixe do País no ciclo positivo do comércio global, o maior desde a segunda guerra. De outro, surge, desde fins de 2005, a multiplicação do vigor do mercado interno, movido à massa de rendimentos (emprego formal, reajustes de salários acima da inflação passada e valorização do mínimo), crédito (principalmente com a proliferação da modalidade em consignação) e iniciativas oficiais de transferência renda (lideradas pelo programa bolsa família).

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do curso de Economia e editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e agraciado com o Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Escreve às quartas-feiras neste espaço