No começo do mês de abril de 2012, o Ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, retornou de uma breve incursão internacional, na qual teceu críticas contundentes à guerra cambial, ou à forte depreciação do dólar frente as demais moedas, provocada pela atitude dos bancos centrais das nações avançadas em irrigar as entidades financeiras com dólares e euros visando à retirada dos mercados da situação recessiva surgida desde o último trimestre de 2008.
Na ocasião, a Presidente Dilma, partindo do pressuposto de que os efeitos das medidas de desoneração fiscal, contidas na versão 2012 do Programa Brasil Maior, poderiam esbarrar no elevado custo do crédito, especialmente para capital de giro e consumo, orientou o titular da pasta econômica a iniciar uma ofensiva para interferir na redução do preço do dinheiro e na subida da renda do sistema, perseguindo, de forma ferrenha, a ativação de expedientes capazes de promover o corte dos juros, particularmente dos enormes spreads bancários.
Os spreads representam o hiato entre as taxas cobradas dos tomadores finais e as despesas incorridas pelas instituições financeiras com a captação dos recursos que, segundo o Banco Central (BC), teria superado suplantado a marca de 28,0%,contra menos de 5,0% da média mundial, o que significa que os juros nominais médios estariam em quase 40,0% ao ano, se for considerados dispêndios de arregimentação de haveres pouco superiores a 10,0% a.a.
A fragmentação dos spreads, com base nas informações dos balanços de um painel de entidades, permite identificar uma matriz formada por margem líquida (32,7%), inadimplência (28,7%), impostos diretos (21,9%), custos administrativos (12,6%) e compulsórios (acrescidos de subsídios cruzados ao setor rural, dos encargos fiscais e da contribuição ao fundo garantidor de crédito, 4,1%).
De acordo com o BC, os recolhimentos compulsórios absorvem 43,0% dos depósitos à vista (com adicional remunerado de 12,0%) e 20,0% dos recursos aplicados à prazo (entre 10,0% e 12,0% de acréscimo com rendimento). Ainda conforme o banco Credit Suisse, a parte da renda dos consumidores destinada à cobertura de encargos financeiros (juros e amortizações dos empréstimos) subiu de 19,8% para 22,7% entre dezembro de 2010 e dezembro de 2011.
Inferências do BC mostram que a inadimplência (atrasos nos pagamentos superiores a 90 dias) das famílias chegou a 7,6% em abril de 2012, contra 7,4% em março e 6,1% no mesmo mês do ano anterior, apesar da ocorrência de acentuada elevação da massa de salários (emprego e remuneração). Para o Itaú,  retardo nos pagamentos estaria em 6,8%, o maior nível desde março de 2010, e para o Bradesco em 6,4%, o mais elevado desde junho de 2010.
O retardo acima de 90 dias nas prestações de financiamento de veículos chegou a 5,7%, recorde histórico, e entre 15 e 90 dias a 8,0%, sendo o maior nível desde março de 2009. As estatísticas da Fenabrave mostram que os estoques de veículos em abril de 2012 correspondiam a 43 dias de venda, incluindo o encalhe nos pátios das montadoras e das concessionárias, representando o nível mais elevado desde novembro de 2008, no começo do colapso global, quando chegou a 56 dias. 
Estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI), do começo do atual decênio, comprovam a condição brasileira de prática dos mais ultrajantes spreads entre 102 países investigados (que cobra em média entre 1,0% e 2,0%), determinada pela diminuta concorrência travada entre as entidades, a despeito do ingresso de relevantes bandeiras estrangeiras no front interno.
Outro aspecto curioso, levantado pelo BC antes do colapso mundial de 2008 reside no fato de que os conglomerados públicos praticavam spreads superiores aos dos privados, em razão de desfrutarem de menores despesas de captação por hospedarem as contas dos governos e os depósitos judiciais.    
Aliás, a oligopolização do sistema bancário do País foi edificada com a reforma financeira dos anos 1960, que facilitou os processos de fusões e aquisições, e sacramentada com o fechamento do canal de multiplicação dos lucros inflacionários (floating), a partir de 1994, com o lançamento e consolidação do plano real, também escorados em operações de socorro aos entes públicos (Proes) e privados (Proer), incluindo a desestatização, e na introdução e imposição de exagerado pacote de tarifas.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço