O ser humano tem limites. O corpo não é uma máquina; exige repouso, boa alimentação, exercícios físicos. A mente, por sua vez, necessita de tranquilidade, além de boa alimentação, lazer, etc. Fato é que ninguém pode aguentar uma jornada de trabalho insana de 80 horas semanais. Mas é isso o que vem ocorrendo com parcela expressiva dos médicos brasileiros, especialmente os que possuem maior dependência da saúde suplementar para garantir a sobrevivência.
Lamentavelmente os planos de saúde (ou a maior parte deles) estão se transformando em um dos principais vilões dos tempos contemporâneos. Entra ano, sai ano, seguem aumentando as reclamações dos órgãos de defesa dos consumidores: as operadoras deixam de ressarcir milhões aos cofres do Sistema Único de Saúde, fazem pressões sobre médicos e hospitais para reduzirem exames, anteciparem altas e outras interferências prejudiciais aos pacientes. Enfim, médicos reclamam, cidadãos reclamam, vidas são colocadas em risco e os brasileiros continuam sofrendo com o descaso e desassistência.
O movimento médico tenta de tudo para mudar esse quadro. Conversas, audiências públicas, movimentos, paralisações, abaixo-assinados, artigos publicados nas principais mídias. Os avanços, mesmo assim, são tímidos. Em contrapartida, os mais de 40 milhões de usuários de planos de saúde são presenteados todos os meses com gordas mensalidades, que devem ser pagas em dia, com os devidos reajustes anuais.
Hoje parece aceito por todas as partes que há de se incluir nos contratos entre médicos e empresas cláusulas que determinem reajustes dos valores pagos a consultas e procedimentos. Mas ainda não está estabelecido, muito menos acordado entre as partes, qual será este reajuste e como será calculado. Também está claro que o médico deve ter autonomia para definir, junto de seu paciente, pelo melhor caminho a se chegar a um diagnóstico e, em seguida, tomar todas as medidas necessárias para eventual tratamento. Infelizmente, mais uma vez, esbarramos na falta de autonomia.
Por fim, ainda somos prejudicados pela não adoção da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), uma lista que hierarquiza todos os procedimentos médicos disponíveis no país, conforme complexidade, separados por especialidades. A partir da definição dos valores a serem pagos, todos os procedimentos médicos automaticamente estariam listados com seus respectivos portes, facilitando a vida de médicos e operadoras de saúde.
A CBHPM é fruto de trabalho árduo, realizado há quase 10 anos, pelo conjunto de sociedades de especialidades médicas, por meio de infinitas reuniões, estudos, pesquisas, e periódicas atualizações. Para a aceitação desta e de todas as demais reivindicações dos médicos, tramitam diversos projetos de lei no Congresso Nacional, mas a passos lentos, lentíssimos.
O que se sabe é que, mais uma vez, médicos e pacientes, de mãos atadas, aguardam que o desenrolar dos fatos aconteça logo, poupando vidas e oferecendo ao país uma saúde mais justa e eficiente.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica