As alianças para as eleições municipais de outubro escancararam de vez a falta de coerência partidária do cenário político brasileiro. Em muitas cidades do País tornou-se cada vez mais comum ver legendas de histórias e ideologias totalmente antagônicas unidos em busca de poder. No Paraná a situação não é diferente e os casos não se limitam aos pequenos municípios, incluindo também cidades mais populosas.

Em Guarapuava, região Central do Estado, o candidato do PPS à prefeitura, deputado estadual César Silvestri Filho, é sustentado por uma coligação de treze partidos, que incluem Democratas e PC do B. O DEM nada mais é do que a sigla herdeira da antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), que durante duas décadas sustentou os governos militares a partir do golpe de 1964. Com esse nome sobreviveu até 1979, quando foi instituído o multipartidarismo, e a sigla se tornou o PDS. Em 1985, um grupo dissidente deixou a legenda para criar a Frente Liberal, que aliou-se ao PMDB para eleger Tancredo Neves presidente no então colégio eleitoral, e mais tarde, deu origem ao PFL. Desgastada por sucessivas derrotas, o partido refundou-se em 2007 com o atual nome.

Já o Partido Comunista do Brasil (PC do B) surgiu em 1922, a partir de uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Durante a ditadura militar, foi o principal fornecedor de quadros da chamada Guerrilha do Araguaia, que entre o final dos anos 60 e meados dos anos 70, tentou fomentar a derrubada do regime militar pelas armas, a partir de uma revolução socialista  inspirada nas revoluções cubana e chinesa, a partir dos estados do Maranhão, Goiás e Pará.

Mesmo atualmente, as duas legendas tem posições completamente distintas. O DEM foi oposição ferrenha aos dois mandatos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, e mantém-se na oposição ao governo Dilma Rousseff. O PC do B não só integrou a base da administração Lula, como comanda o Ministério do Esporte, entre outros cargos nos altos escalões do poder federal.

Curiosamente, os dois partidos apoiam a candidatura a prefeito de Cesar Silvestri Filho, cuja legenda, o Partido Popular Socialista, fundado em 1992 por parte da direção nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que na época, diante da queda do Muro de Berlim e da dissolução da União Soviética, decidiu fundar uma nova sigla.

Essas uniões no mínimo estranhas se repetem em outros municípios importantes do Estado, como Apucarana, onde o candidato do PT à prefeitura, Beto Preto, é apoiado por uma aliança de dez partidos que igualmente inclui DEM e PC do B. A mesma coligação abriga ainda o PDT, partido criado pelo ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, exilado durante a ditadura militar por suas posições de esquerda e anti-regime. E o Partido da República, que nada mais é do que o resultado da fusão do antigo Partido Liberal (PL) e do Partido da Reunificação da Ordem Nacional (PRONA), legendas conhecidas por suas posições conservadoras até mesmo para a direita. O PRONA ficou conhecido por seu criador, o médico Enéas Carneiro, morto em 2007, e que disputou as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998 defendendo bandeiras como a fabricação da bomba atômica e a ampliação das Forças Armadas.

Já em Foz do Iguaçu, o candidato do PC do B à prefeitura, Chico Brasileiro, encabeça uma coligação que inclui o PP do deputado federal Paulo Maluf, e o PPS, que é oposição ao governo Dilma Rousseff. A lista inclui ainda outras legendas conservadoras como o PTB, o próprio PR, e o PSD do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, esse último saído do DEM.

Em Londrina, a candidata do PT à prefeitura, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Lula, Márcia Lopes, tem em sua coligação o PPS, que foi oposição a Lula, e mantém-se na oposição a Dilma.

Salada — Essas disparidades não se limitam aos municípios de maior população, repetindo-se também nas pequenas cidades. Levantamento do site G1 aponta que dos 18 municípios paranaenses com candidatos únicos às prefeituras, pelo menos 12 abrigam legendas com histórico de divergência. É o caso do prefeito de Rancho Alegre d’Oeste e candidato à reeleição, Valdinei Peloi (DEM), que tem como vice, Suely Silva, do PT. Ou Bom Sucesso do Sul, onde o candidato do PSDB, Celso Pilonetto (PSDB), é apoiado por PT e DEM. O mesmo acontece com Olimpio de Moura (PMDB), em Catanduvas; e Marcão Barranco (PDT), em Guaporema. Em Nova Aliança do Ivaí (Noroeste), o candidato do PT, João Tormena (PT), é apoiado por tucanos e demistas.

A esquizofrenia não perdoa nem mesmo municípios que são base eleitoral de caciques partidários. É o caso, por exemplo, de União da Vitória (Sudoeste), base política do atual presidente da Assembleia Legislativa e presidente em exercício do PSDB paranaense, deputado Valdir Rossoni. Lá os tucanos apoiam a candidatura do petista Pedro Ivo Ilkiv à prefeitura local.