A tese de frouxidão dos postos de trabalho e retração das variações salariais no Brasil esbarra na constatação de preservação da tendência de reajustes de rendimentos do trabalho acima da inflação, superando em algumas situações a própria produtividade setorial, o que pode ser atribuído, em grande medida, à mobilidade dos trabalhadores na busca de maiores remunerações e outras vantagens, em um clima de mercado ainda aquecido.
A massa salarial real da indústria cresceu 3,8% nos primeiros cinco meses de 2012 conforme a Pesquisa Mensal de Emprego e Salário (PIMES) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e 6,9% segundo a CNI. Já de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, o rendimento real do trabalho atingiu R$ 1.725,60, ou 2,77 salários mínimos em maio de 2012, suplantando em 4,9% o valor registrado no mesmo mês de 2011.
Adicionalmente, algumas simulações propiciam verificar que o montante total de salários reais pagos nas seis Regiões Metropolitanas subiu mais de 6,0% em 2012, puxado pela construção civil 19,0%, serviços (80,0%) e administração pública (7,0%). Ademais, cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que a diferença entre o salário mínimo (SM) considerado ideal pela entidade e o efetivamente estipulado pelo governo federal no País é a menor da história. Mais precisamente, o SM adequado seria 2,7 vezes maior que o fixado atualmente contra 3,3 vezes no final de 2011 e 8,1 vezes em 1994, quando do lançamento do plano real.
Em outros termos, o comportamento dos indicadores de demanda e oferta de trabalho no Brasil enfeixa os resultados de uma opção pela expansão econômica ancorada no consumo privado e nos gastos públicos, presente sobretudo no período 2007-2010, compreendendo o segundo mandato do Presidente Lula, no qual o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresceu 4,5% ao ano.
Em sendo baseada na conjugação entre ingresso maciço de poupança externa, ganhos de intercâmbio e multiplicação das políticas de renda, notadamente a apreciação do salário mínimo e as transferências diretas, essa escolha estratégica repercutiu, de maneira positiva, nos segmentos com forte poder de absorção de mão-de-obra, como construção civil, comércio e serviços.
Nesse sentido, os elementos animadores proporcionados pelos atuais pisos históricos de desemprego, pelo dinamismo de ingressos e saídas de trabalhadores e pela impulsão dos salários reais médios, afastam as chances de descoberta de frestas expressivas no grau de utilização deste fator de produção ou de formação de grupos de reserva no interior das firmas.
Mais que isso, a paisagem econômica favorável e o acentuado estado de satisfação predominante na sociedade, facilitam o entendimento, na órbita política, do enorme coeficiente de aceitação popular da gestão Dilma, a despeito da freada econômica, comprovada pela variação de apenas 2,7% do PIB em 2011 e de 1,9% no indicador de doze meses encerrados em março de 2012.
O PIB do primeiro trimestre de 2012 cresceu apenas 0,2% e 0,8% em comparação com os três últimos e os três primeiros meses de 2011, respectivamente, em face dos desdobramentos do agravamento da instabilidade exógena e da morosa resposta privada aos estímulos de calibre fiscal e monetário lançados pelo executivo federal, no afã de reativar a economia, provavelmente em decorrência de sua exígua coerência, sobretudo na área tributária, em um estágio de esgotamento da capacidade de endividamento primário da população.
A deterioração da atmosfera econômica externa pode ser atestada pela recessão europeia, inserindo outros países, além da Grécia; estagnação dos Estados Unidos, também afetada pelo evento eleitoral de 2012 naquele País; morosa reativação japonesa e incertezas quanto à magnitude da inevitável desaceleração chinesa. A propósito da China – cujo PIB cresceu 8,1% e 7,6% no primeiro trimestre e segundo trimestre de 2012, os menores níveis em três anos, e a inflação fechou em 3,0% em doze meses até junho de 2012, a menor intensidade em dezessete meses -, o Banco Popular vem diminuindo os depósitos compulsórios das entidades financeiras comerciais desde o final de 2011 e, em junho de 2012, cortou a taxa básica em 0,25 ponto percentual, fazendo-a declinar para 6,31% a.a.
Como resultado, apurou-se, no Brasil, moderação na expansão do consumo das famílias (2,5%), ancorada nos bens salários, e drástica redução do produto agrícola (-8,5%, a maior em quinze anos) e dos investimentos (-2,7%).
Cumpre assinalar que o impacto do decréscimo do quantum do agro foi, em grande medida, neutralizado parcialmente pela recuperação da renda rural, afetada positivamente pela subida das cotações das commodities agrícolas e pelo recente movimento de apreciação do dólar nos mercados mundiais.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço