Somos carentes.

Carentes de afeto, atenção, compreensão, carinho, consideração,
respeito, amigos, romance, sexo, emoções, dinheiro, prestigio, enfim
tudo o que nos compõe. Ser carente não é de fato o nosso maior
problema, pois aprendemos a suportar e conviver com nossas
necessidades, mas o que fazemos com essa carência é que nos revela.

Muitos usam a carência como escudo, defesa, doença, solução, desculpa;
outros convivem silenciosamente com suas necessidades exorcizando seus
efeitos no trabalho, nas amizades ou no lazer.

Os relacionamentos não estão imunes às carências. Podemos estar
acompanhados e sentir falta da atenção, do carinho, do respeito do
outro, além do próprio afeto.

Gostar não é suficiente para se viver um grande amor. E não estamos
falando de um único e grande amor, aquele idealizado e sonhado na
adolescência, que nunca sai da cabeça ou do filme, mas daquele
relacionamento verdadeiro, intenso e cheio de boas recordações.

O gostar, a paixão e o desejo fazem parte da engrenagem que movimenta
toda nossa possibilidade de ser e amar. Os relacionamentos,
infelizmente, não são à prova de descasos, mentiras, maus-tratos e
desrespeitos, pois se constroem a partir da personalidade e dos
recursos emocionais das pessoas. O amor nos denuncia.

Os relacionamentos partem de possibilidades que começam muito antes das
pessoas se procurarem e se acharem. Somente estamos prontos para um
relacionamento duradouro, quando a relação que temos conosco se
equilibra, ou seja, quando nos conhecemos: sabemos e respeitamos nossos
limites, respeitamos e negociamos com nossas vontades, reconhecemos e
toleramos nossos defeitos e valorizamos e aprimoramos nossas qualidades.

O processo de autoconhecimento parte de uma necessidade de sermos
melhores, de vivermos mais felizes e tranqüilos com a nossa existência.
Parar de idealizar os relacionamentos e seus desdobramentos é um bom
caminho para superar nossas carências e suas dores. Com o olhar mais
humano nos aproximamos do possível ordenando as expectativas e os
sonhos.

Somos responsáveis por nossas decisões e não se pode esquecer de que
tudo foi escolhido, de uma forma ou de outra, que tudo foi desejado,
encaminhado, conscientemente ou não. Nossa luta diária é para dar um
lindo colorido a nossa vida mesmo que, a príncípio, essa felicidade não
esteja tão visível.

*Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo – CRP06/16669

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