O modismo produzido em 2001, com o surgimento do conceito BRIC (Brasil, Rússia, China e Índia), nas avaliações do banco Goldman Sachs,  acrescido do S com o enxerto da África do Sul, estaria em tempos de substituição ou, ao menos, de relevante concorrência, com o advento da sigla MIST (grupo de nações formado por México, Indonésia, Coréia do Sul e Turquia, com população superior a 500 milhões de habitantes, 45,0% superior à da eurozona), cujos mercados acionários teriam acusado apreciação de 12,0% em 2012 contra 1,5% no BRICS.
Enquanto o produto interno bruto (PIB) da Europa deve contabilizar retração de –1,0% em 2012, a economia dos EUA deve encerrar ano com expansão de apenas 1,9%,  em função da conjugação entre a morosa reativação do emprego e da renda, a reduzida disposição ao investimento privado e a predominância das intenções de enxugamento de passivos por parte das famílias e corporações.
Adicionalmente, não obstante as sucessivas rodadas de redução de juros e injeção de liquidez, levadas a cabo pelas autoridades monetárias das nações avançadas, percebe-se considerável descompasso entre os juros de curto prazo (0,75% a.a. na Europa e 0,25% a.a. nos EUA) e aqueles cobrados para a rolagem dos passivos das nações em dificuldades como, por exemplo, a Espanha, que paga mais de 4,0% a.a. O desmonte dessa barreira exigirá a solicitação de apoio formal do fundo de resgate europeu e, consequentemente, o monitoramento da orientação macroeconômica, em consonância com os princípios ortodoxos contidos na cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Brasil, apesar de prejudicado pelos desdobramentos do aprofundamento da instabilidade fiscal e monetária da Zona do Euro, particularmente nos EUA e na China, o mercado ainda permanece vigoroso no front interno, mesmo com o afastamento cada vez maior da tese de descolamento da turbulência exógena.
É notória a fortaleza edificada pela demanda interna. Mais precisamente, a alteração no perfil de distribuição de renda e, por extensão, o atendimento das carências de procura, proporcionados, em dois decênios, principalmente pelo extermínio da superinflação e a queda da concentração de riqueza e dos níveis de pobreza, constituem apreciáveis trunfos à perenidade e ao alargamento das bases de um projeto de desenvolvimento para o País, mais voltado ao mercado doméstico, menos subordinado à poupança externa e com menor grau de disparidade social.
Ressalte-se que a diminuição dos desníveis na sociedade esteve atrelada às iniciativas de recomposição do poder aquisitivo do salário mínimo, à instituição e disseminação do crédito em consignação  – mais barato do que as demais modalidades, em razão do desconto direto das parcelas dos rendimentos mensais do devedor – e às ações de inclusão social, cujas bases foram fincadas na Constituição de 1988, como os benefícios previdenciários, o seguro-desemprego, a Lei Orgânica de Assistência Social e o Bolsa Família.
Por tudo isso, parece crucial que a política econômica ultrapasse a configuração de colcha de retalhos, ou mesmo de remendos localizados, aplicada para beneficiar categorias de atividades com forte poder de pressão política, e passe a adotar medidas capazes de provocar uma verdadeira e generalizada contração estrutural dos dispêndios e o desencalhe da programação de inversões das empresas.
A propósito disso, investigação efetuada pelo jornal o Estado de São Paulo verificou que, nos meses de julho e agosto de 2012, mais de US$ 95,0 bilhões em investimentos foram interrompidos ou sofreram adiamento das etapas de execução no Brasil, sobretudo nos segmentos de mineração, siderurgia, automóveis e petróleo. Só a estatal Petrobras procedeu à revisão de empreendimentos que deveriam absorver recursos superiores a US$ 50,0 bilhões.
Em linha semelhante, de acordo com o Banco Central (BC), os valores de estoque de crédito e de novas concessões de empréstimos e financiamentos perderam ímpeto em 2012 devido à desaceleração da economia e à reestruturação das dívidas das pessoas físicas e jurídicas. O BC também demonstra que, enquanto as instituições financeiras públicas praticam juros de 30,0% a.a., no crédito pessoal, e 77,0% a.a., no cheque especial, os bancos privados cobram 57,0% a.a. e 184,0% a.a., respectivamente.
Decerto, para que o custo Brasil decline a níveis próximos daqueles incorridos por produtores do resto do mundo, é crucial a restauração e aprimoramento da eficiência na área de infraestrutura – viabilizada através do resgate da capacidade de formulação, gestão e implantação de projetos públicos ou partilhados com o setor privado – e a compressão das tarifas públicas e do peso da mão de obra, via diminuição da incidência de impostos.
A par disso, seria pertinente a negociação e definição política de uma aliança hegemônica de amparo à uma nova etapa expansiva, acompanhada de um padrão consistente de financiamento ao atendimento das prioridades em educação e formação de mão-de-obra, inserção internacional, tecnologia e inovação, e da fixação de regras claras e estáveis para preços, tarifas e retornos dos empreendimentos públicos em regime de concessão, ou mesmo de privatização.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço