Neste momento em que a acentuada perda de competitividade ameaça a viabilidade econômica da indústria brasileira, colocando em risco também as suas vertentes social e ambiental, é interessante conhecer melhor a visão sobre sustentabilidade do canadense Maurice Strong, uma das maiores autoridades mundiais no assunto. Daí o significado dos entendimentos mantidos pela Fiesp, por meio de seu Departamento do Meio Ambiente e de seu Conselho Superior do Meio Ambiente, que congrega numerosos especialistas em ecologia, para a troca de informações e experiências, incluindo uma palestra dele realizada na sede da entidade em São Paulo.

Maurice Strong, inicialmente empresário do setor petrolífero, foi idealizador da primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972.  Depois, desempenhou a função de secretário geral dos dois grandes eventos correlatos que se seguiram: a Eco-92, no Rio de Janeiro, em 1992, e o encontro da ONU em Joanesburgo, na África do Sul, em 2002. Atualmente, ele é consultor do governo chinês na área de desenvolvimento sustentável. Professor honorário da Universidade de Pequim, seu histórico inclui passagens na liderança de instituições como o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e serviços para a Diretoria do Banco Mundial e o World Business Council for Sustainable Development. Atuou, ainda, em renomadas universidades, como no Center for International Development of Harvard (EUA), e em vários institutos de pesquisa.

A interação de Strong com a Fiesp é um feliz e oportuno encontro, somando a experiência de um dos grandes especialistas mundiais no tema com lideranças e empresários industriais do país que tem as mais concretas soluções potenciais ante os desafios da sustentabilidade. O Brasil, a despeito da conjuntura mercadológica desfavorável que afeta hoje sua manufatura, premida pelos conhecidos ônus dos impostos, encargos trabalhistas, juros, burocracia e infraestrutura precária, aos quais se somam o problema do câmbio e o crescente assédio de exportadores, tem a maior área agricultável disponível do Planeta, condições inigualáveis de produzir biocombustíveis, tecnologia ímpar para sua utilização em larga escala, clima e solo favoráveis ao cultivo em todo o ano, indústria avançada e quase 200 milhões de consumidores. Como nenhuma outra nação, portanto, temos capacidade de fornecer energia limpa e renovável e alimentos, harmonizando tudo com a preservação ambiental. É a resposta que o mundo precisa!

Nesse contexto, é enriquecedor o olhar do especialista canadense sobre as práticas que vêm sendo desenvolvidas e aplicadas em países com liderança industrial no mercado internacional. É particularmente importante compartilhar a experiência da China, onde, desde a década de 80, ele tem atuado em auxílio aos atores públicos e privados na construção dos parâmetros de sustentabilidade econômica e socioambiental. Note-se que a nação asiática, a despeito dos grandes problemas ecológicos que ainda permeiam sua produção, apresenta os maiores avanços em tecnologias sustentáveis.

Dr. Strong tem participação direta nesse processo de mudanças, inimaginável há alguns anos. Assim, a sua abordagem sobre um dos mais relevantes temas da atualidade permitirá reflexão sobre as boas oportunidades do Brasil. Para aproveitá-las, porém, seria pertinente que as autoridades ficassem atentas a algumas lições de outros países, que nos ajudariam a vencer as contradições que continuam mitigando nosso imenso potencial de conquistar o desenvolvimento sustentável.

*João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da Federação das Indústrias no Estado de São Paulo (Fiesp) e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade.