A prática de exercícios físicos aumenta no verão. As academias e parques se enchem de pessoas que aproveitam a estação para entrar em forma e manter a saúde. E de falar em saúde, é importante salientar que uma pessoa saudável não significa apenas não estar doente, mas sim estar bem física, emocional e socialmente. Visto isto, o médico psiquiatra da Clínica Nova Esperança, José Leão de Carvalho Junior, idealizou um projeto para ajudar na recuperação dos pacientes dependentes químicos. Vale ressaltar que atividades físicas nesses casos são de extrema importância, auxiliando em todas as questões da vida do indivíduo, pois qualquer tipo de dependência é uma doença contagiante, pois afeta não apenas o doente em questão, mas sim tudo e todos ao seu arredor.

Exercícios físicos são essenciais para o tratamento visto como um todo, pois, nas palavras do médico, eles são fundamentais no tratamento de qualquer transtorno mental. Devem ser feitos de maneira regular, dentro dos limites de cada um. A reorganização metabólica e hormonal que a prática regular de exercícios físicos promove é extremamente benéfica para o funcionamento cerebral e para o psiquismo de modo geral. O dependente químico em abstinência geralmente está fragilizado em suas funções psíquicas, sendo que muitas vezes adquiriu também uma comorbidade psiquiátrica. Portanto a atividade física é sempre terapêutica para eles.

Surfe como parte do tratamento

O médico sempre procura alternativas diferentes para ajudar seus pacientes na recuperação da dependência química e na reestruturação de suas vidas quando abstinentes. Ainda em tratamento e tentando manter-se em abstinência, a maioria deles encontra grandes dificuldades para reencontrar o prazer em suas vidas.

José Leão surfa há mais de 35 anos. Por esta razão, ficou mais sensibilizado com esta limitação de seus pacientes. Começou então a pensar em maneiras de proporcionar a eles o prazer do surfe. Só do surfe, desassociado das drogas. Muitos pacientes praticamente nunca surfaram sem usá-las, acrescenta o médico. Ele partiu do princípio de que se eles conseguirem reencontrar o prazer no surf poderiam estender este reencontro para outras atividades em suas vidas. E esta é uma das diretrizes do tratamento da dependência química para a fase de manutenção da abstinência. De início, propôs a idéia para a equipe técnica da Clínica Nova Esperança. Após receber o apoio, fez a proposta ao conjunto dos pacientes em atendimento.

Em dezembro de 2010 teve início o Surfe Seguro. Até o momento, já foram várias idas, em média uma vez por mês, ao litoral paranaense, quase sempre na Ilha do Mel. Mas, para ser participante, o grupo definiu alguns parâmetros para a participação na atividade: ter feito tratamento na Clínica Nova Esperança e ainda estar participando de qualquer atividade terapêutica na mesma; ser surfista; ter autorização de sua família e de seu terapeuta de referência; comparecer às reuniões do grupo e ser aprovado pelos seus integrantes.

Programação do Surfe Seguro

A atividade é programada e organizada na reunião: horário e local de encontro, qual praia, melhores dias de ondulação, etc. No dia marcado, vão de carro e dividem as despesas de combustível e pedágios. Cada detalhe da viagem é decidido coletivamente. Ao chegar à praia, estabelecem um local para deixarem os pertences e caem na água. É preciso ficar surfando relativamente próximos uns dos outros e, quando alguém quer sair da água, deve informar aonde vai, fazer o que e o porquê. Geralmente, ninguém sai sozinho, pois os participantes têm uma saudável noção de proteção uns aos outros. Quando bate a fome, todos saem juntos da água e vão almoçar. Após a refeição, o grupo decide se volta para água ou se vai embora. Inclusive, o grupo não tem fotos de nenhum dos integrantes surfando pelo fato de sempre entrarem e saírem juntos do mar. Há fotos apenas dos trajetos e das refeições.

O médico acrescenta que há o medo de alguém sair do mar e encontrar alguma pessoa da ativa e ter uma recaída. Quase todos pacientes surfistas relatam que não podem mais surfar, pois, apesar de ser um esporte, no meio do surf há muitos usuários e dependentes de substâncias psicoativas e esta acaba por se tornar uma atividade relacionada ao uso. Ao se instalar a dependência química, todo prazer fica ligado ao uso da substância psicoativa. Vários pacientes relatam que não podem mais ir a baladas, parques e praia, pois tais ambientes são perigosos para a manutenção de suas abstinências, afirma o médico.

Leão salienta também que sempre é falado nas reuniões que estar abstinente é um critério fundamental. Nos encontros e nos atendimentos clínicos outros tipos de práticas esportivas sempre são estimulados para melhorar o condicionamento e o aproveitamento nas sessões de surfe. Pode ser musculação, natação, atividades aeróbicas, etc. Vale lembrar que a maioria dos participantes está com alguma prática esportiva regular.

O médico afirma perceber um sentimento de pertencimento ao grupo, de esforço e cuidado uns dos outros, de cooperação e sinais de estabelecimento de vínculos saudáveis. Alguns familiares e terapeutas têm dado informações positivas referentes à atividade. Quero crer que o Surfe Seguro esteja contribuindo para melhorar a qualidade de vida e o relacionamento familiar e social dos seus participantes, expõe o médico. Aracélis Canelada Copedê Filha, diretora geral da Clínica, acrescenta que esse tipo de empreitada auxilia muito na recuperação dos pacientes. Muitos jovens, que não tinham coragem de realizar nenhum tipo de esporte, passaram a ter confiança e sentir que podem fazer qualquer prática esportiva, desde que não usem álcool e ou outras substâncias psicoativas e estejam em um grupo de esportistas que não façam uso de drogas que causam dependência, afirma.

A Clínica Nova Esperança

Desde 1989, a Clínica Nova Esperança dedica-se à reabilitação de dependentes químicos através de um programa de tratamento especializado que compreende a desintoxicação, a reestruturação física e emocional de seus pacientes e a orientação familiar. Especializada no tratamento das dependências químicas e outros transtornos compulsivos, a Nova Esperança tem como princípio a valorização do ser humano, através da conscientização para a reintegração familiar e social. O tratamento da Clínica é baseado em um procedimento individualizado. Para a Nova Esperança, a família tem também um papel importante na reabilitação do pacientes e por isso recebe atenção especial.