Eu-sou-um-ho-mem, disse pausadamente Luis von Ahn pelo telefone, em português, após um bate-papo na língua inglesa. Minha pronúncia deve estar ruim, falou logo depois. Mas não estava. Prestes a vir ao Brasil, Ahn, nascido na Guatemala, começou a aprender português recentemente no serviço que ele mesmo criou: o Duolingo.
Lançado em junho do ano passado, o Duolingo é um curso gratuito de idiomas, que pode ser acessado pela web ou em dispositivos com iOS — a versão para Android chega em maio deste ano.
Já são mais de 2,8 milhões de pessoas aprendendo inglês, espanhol, português, francês, italiano e alemão. Duolingo funciona com uma lógica similar ao recaptcha, uma das grandes invenções de Ahn: enquanto aprende uma língua, o usuário está ajudando a traduzir um pedacinho da internet.

O sistema funciona como uma espécie de jogo: o estudante vai avançando por diferentes níveis e perde corações com respostas incorretas. Primeiro, é apresentado a novas palavras. Depois, tem de traduzir frases — o que vai lhe dando pontos. Há também atividades com imagens e áudio.
Quando o usuário completa um dos níveis, após exercícios de fixação de várias palavras e expressões, outro mais avançado é desbloqueado. As etapas estão divididas em categorias como saudações, animais, verbos e pronomes. Quem já tem algum conhecimento do idioma pode fazer um teste de atalho e pular para o próximo nível. No celular, a dinâmica é a mesma, só um pouco mais simplificada.
Alunos-tradutores — Pioneiro na área de computação humana — que estuda formas de pessoas decodificarem coisas que computadores não conseguem —, Ahn sempre se questionou sobre como o conteúdo da internet poderia ser traduzido em línguas diferentes para ficar acessível ao maior número de pessoas.

No entanto, a tradução automática pode não ser a melhor saída: Os computadores não traduzem tão bem, não é muito preciso, aponta Ahn. A solução seria transformar a tradução de idiomas em algo que milhões de pessoas quisessem fazer. Além disso, o empreendedor queria criar um curso de línguas que fosse lucrativo, mas sem cobrar nada dos estudantes.
Eu cresci na Guatemala e lá muitas pessoas queriam aprender inglês, mas realmente não podiam pagar, conta Ahn, que se mudou para os Estados Unidos com 17 anos para estudar matemática e ciência da computação. Na verdade, os que mais precisam aprender inglês são exatamente aqueles que não podem pagar, que precisam de empregos melhores, diz. Nunca gostei desses programas que custam US$ 100 ou US$ 500, então pensei: como ensinar um idioma de graça? Assim surgiu o Duolingo, que recebeu US$ 18 milhões em rodadas de investimento.
O segredo do serviço ser gratuito — porém lucrativo — é que, enquanto estão aprendendo a língua, os alunos vão traduzindo trechos de textos que empresas pagaram ao Duolingo para traduzir Algumas delas são de notícias que nos pedem, ou de artigos da Wikipédia que nós selecionamos, diz Ahn.