O PSDB do Paraná realiza convenção no próximo dia 28 para renovar o comando regional do partido, hoje presidido pelo governador Beto Richa. A intenção de Richa era repassar o cargo da Executiva Estadual para outro tucano, como forma de ficar livre das obrigações partidárias para poder se dedicar ao projeto de reeleição para o governo para 2014. Mas o governador pode acabar sendo obrigado a permanecer no posto para evitar uma disputa entre dois de seus principais aliados: o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdir Rossoni, e o líder do governo na Casa, deputado Ademar Traiano.
No ano passado, Richa já havia se licenciado do cargo antes das eleições municipais, deixando Rossoni como presidente interino. E pretendia aproveitar a convenção estadual para repassar de vez o posto para outra liderança, evitando acumular a responsabilidade de administrar o Estado e articular sua reeleição com as obrigações de dirigente partidário.
Traiano logo se apresentou para sucedê-lo, mas foi surpreendido, no final de fevereiro, pela decisão da bancada tucana na Assembleia de indicar Rossoni. Na ocasião, o líder governista chegou a discutir publicamente com o líder da bancada, deputado Francisco Bührer, afirmando que a indicação foi feita à sua revelia. Bührer rebateu alegando que Traiano, como líder do governo, tinha que se preocupar em cuidar da articulação com os demais partidos da base de sustentação de Richa, e não poderia se dedicar exclusivamente ao diretório do PSDB. O líder governista não gostou, e afirmou que o partido precisava de sangue novo para se preparar para a eleição do ano que vem, e lembrou que Rossoni já presidiu a legenda.
Por trás da briga entre os dois está a disputa por poder político não só dentro do PSDB, mas também da busca por posições que visam às eleições de 2014. Rossoni sonha em ser o candidato tucano ao Senado, mas já admitiu abrir mão desse pretensão em favor do senador Álvaro Dias, para disputar a eleição de deputado federal. A presidência do diretório tucano lhe daria a visibilidade necessária para esses vôos futuros.
Já Traiano pretende se reeleger deputado estadual com o propósito de conquistar a presidência da Assembleia a partir de 2015. Ele chegou a articular uma candidatura ao cargo no ano passado, e só desistiu em favor da reeleição de Rossoni após a intervenção do governador. Na época, Richa garantiu apoio para que o líder governista presidisse o Legislativo a partir da próxima Legislatura.
Após o confronto inicial, Traiano e Rossoni, por pressão do Palácio Iguaçu, tentaram por panos quentes na disputa. Nós ainda não conversamos sobre isso. A decisão caberá ao governador, despistou o presidente da Assembleia na semana passada. Se depender de mim não tem bate chapa. Eu gostaria de ser presidente, mas se tiver bate chapa eu retiro minha candidatura, garantiu Rossoni. Já manifestei meu desejo de ser candidato. Mas tenho um grupo político. Se for pela unidade do partido estou aberto a discussão, disse Traiano, reafirmando que deve prevalecer a vontade do governador.
Antes, Traiano já havia dito que só desistiria de suas pretensões se for para que o próprio Richa permaneça na presidência do diretório estadual. Mesmo nesse caso, porém, a disputa se transferiria para a vice-presidência da legenda, já que é quase certo que mesmo que fique no cargo, o governador se licenciaria para a campanha.
Beligerância — E apesar das tentativas públicas de negar a existência de um racha, nos bastidores, tanto Rossoni quanto Traiano continuam travando uma disputa pelo apoio para assumirem o comando do partido. Nas últimas semanas, os dois tiveram novo confronto público, depois que o presidente da Assembleia desautorizou o líder governista, que queria que a reunião com o secretário de Estado do Planejamento, Cássio Taniguchi, com os deputados para falar sobre o programa Tudo Aqui Paraná, de terceirização de serviços públicos, fosse feita a portas fechadas. Sem comunicar previamente Traiano, Rossoni anunciou que na sala da presidência do Legislativo não haveria reunião secreta. Após insistir no fechamento da reunião, o líder do governo teve que recuar e aceitar a decisão do colega, mesmo que contrariado, evidenciando o clima beligerante entre os dois.