Do alto dos seus sessenta e poucos anos Ruy Castro está longe de se cansar. Muito pelo contrário. Apesar dos pesares, do câncer, do infarto, da encefalite viral – todas enfermidades sofridas nos últimos anos – o jornalista e escritor parece ter cada vez mais fome de trabalho. Em passagem por Curitiba para uma palestra, ele conversou sobre o seu novo livro que será lançado nos próximos dias, Morrer de Prazer, e ainda revelou que já tem na cabeça os próximos projetos.

Morrer de Prazer reúne algumas dezenas de crônicas de Ruy Castro publicadas no jornal Folha de São Paulo, onde escreve quatro vezes por semana, e alguns outros veículos. Mas, segundo ele, não é uma reunião de crônicas. Não é uma simples coletânea de crônicas que atende somente à vaidade do autor. Eu acho isso desprezível, na verdade. Você tem que oferecer um produto ao leitor que acrescente a ele. Na sequência do livro elas (as crônicas) têm uma outra vida, outra lógica também, explica.

E foi isso que ele fez. Com a ajuda de Isa Pessoa, que deu coerência ao livro, o escritor fez questão de adaptar todos os textos já publicados. Quando você faz uma coisa para jornal ela atende uma necessidade do dia a dia. O assunto tem a ver com noticiário ou as pessoas estão sintonizadas naquele tipo de preocupação. E no jornal, por mais que capriche, tem limitação do espaço, justifica.

Segundo Ruy, praticamente todas as crônicas sofreram alguma alteração. Foram cortadas, alongadas, fundidas e outras e reescritas. Tudo para chegar ao primor que o escritor faz questão quando publica um livro. Nunca entrego um livro à editora sem gostar dele. Sempre reescrevo, mexo quantas vezes precisar para fazer o meu melhor, diz.

Em Morrer de Prazer, Ruy aborda temas de seu cotidiano em um trabalho confessional. São histórias, gostos, desgostos e pensamentos legítimos expressados nos textos. O livro passeia pela visão de Ruy e sua paixão por cinema, pelo Rio, pela boemia, a dedicação ao trabalho, às festas, e ainda as aventuras com bebidas, as internações, a luta para recuperar a saúde. Enfim, um verdadeiro apelo à vida. As crônicas da vida por um fio, como diz o subtítulo da obra.

Mas apesar de mexer em tantas memórias, Ruy Castro não se diz nem um pouco nostálgico. A chamada saudade do passado supõe que você deixou coisa pra trás que não fez direito, que você gostaria de voltar para refazer. Não sobrou nada para mim, tudo foi feito. A vida começa hoje, afirma ele.

O objetivo do livro, ainda de acordo com o jornalista, é de servir como uma fonte de reflexão. Eu estou em uma condição de dar um relato em primeira mão, de alguém que viu, participou. Eu acho que é até uma obrigação minha dar esse tipo de report.

E as histórias não param de acontecer. Ruy Castro caminha todo dia entre Leblon e Ipanema, vai a shows de jazz, bossa nova e mantém sua inspiração renovada. Mas nem precisaria de toda essa paisagem. Dia desses, conta ele que ao passear pelo Leblon encontrou um veterano típico dos anos 60, que certamente o conheceu nos auges tempos de boemia:

– E aí Ruy, voltando do Bracarense?  (um bar da região).
– Que nada cara, voltando da farmácia.

Essa e outras histórias  da vida de Ruy estão em Morrer de Prazer.

Planos — Para o futuro, o escritor já tem novas ideias para um livro, que segundo ele, não será biográfico. Dentre a dezena de livros que Ruy Castro escreveu estão a biografia de Nelson Rodrigues – O Anjo Pornográfico (1992), Garrincha – Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha (1995) e de Carmen Miranda – Carmen: Uma biografia (2005). Por este último, Ruy confessa uma predileção em meio às suas obras. Além de ser um livro muito premiado, como o Jabuti de melhor biografia e melhor livro de não-ficção, foi escrito enquanto ele fazia o tratamento contra um câncer. Segundo ele foram cinco anos de muito trabalho.

Acho que não vou escrever mais nenhuma biografia. Acredito que não consigo superar a de Carmen, revela. Quem paga para ver?

 
SERVIÇO
Morrer de Prazer, 184 páginas
Editora Foz