Dia 10 de outubro, segunda quinta-feira do mês, é o Dia Mundial da Visão. Data instituída pela Agência Internacional de Prevenção à Cegueira (IAPB), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde.
Fundado há 72 anos para legitimar o exercício da Oftalmologia como especialidade médica no País, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) tem longo histórico de atuação na prevenção da cegueira e na promoção de saúde ocular de qualidade, respondendo sempre às necessidades da população e atuando como líder de campanhas como: Olho no Olho, Veja Bem Brasil, Campanha Nacional de Cirurgias de Catarata, entre outras, sempre em parceria com o Ministério da Saúde.

Por isso, neste Dia Mundial da Visão, o CBO reafirma a sua missão de contribuir para a construção de uma nova realidade em que a dor da cegueira, sempre que possível, seja evitada.

Hoje, no entanto, os erros de refração não corrigidos com óculos ou lentes de contato ainda são a principal causa de deficiência visual e a segunda causa mais comum de cegueira. Logo, melhorar a visão das pessoas pode gerar benefícios sociais e econômicos consideráveis e fornecer uma importante contribuição para o desenvolvimento global.

Os governos poderiam poupar milhões de dólares simplesmente investindo em exames oftalmológicos e fornecendo óculos de baixo custo para as milhões de pessoas que necessitam deles. Então, por que não considerar como um direito humano ter saúde mental, saúde visual e saúde de uma maneira geral?

No Brasil, até o ano 2000, estimava-se que, dos indivíduos que apresentavam algum grau de deficiência visual, 42,7% tinham como causa os erros de refração não corrigidos, seguindo-se a catarata (23,9%), a degeneração macular relacionada à idade (5,4%), o glaucoma (4%) e a retinopatia diabética (4%). O Censo 2000 revelou que cerca de 16 milhões de pessoas tinham deficiência visual, e o Censo 2010 surpreendeu: este número mais do que dobrou, chegando a 35 milhões de pessoas. Ou seja, a sociedade paga preço alto pelo cuidado inadequado da visão.

As consequências da visão deficiente não tratada podem gerar, ao longo do tempo, impedimentos na vida profissional e ocupacional.  Sendo assim, por que permitir que uma pessoa venha a desenvolver deficiência visual em função de problemas que podem ser evitados ou corrigidos?

A refratometria ocular, exame realizado para a prescrição de óculos ou lentes de contato, é o procedimento de maior demanda entre todos os que levam uma pessoa à consulta oftalmológica. Não há sequer uma única pessoa que, cedo ou tarde, deixe de requerer algum tipo de correção óptica para melhorar sua visão, seja para o olhar a distância, seja para o de perto.

Na ocasião do exame de refração, é que o médico oftalmologista tem a oportunidade de prevenir, diagnosticar e tratar enfermidades que poderão colocar em risco a saúde ocular, como o glaucoma. De fato, mais da metade das pessoas que têm o diagnóstico de glaucoma feito no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – e não é diferente nos outros hospitais universitários do país -, no momento do diagnóstico, apresenta cegueira irreversível de um olho e certo grau de acometimento irreversível do outro olho.

Somos 17 mil médicos oftalmologistas brasileiros distribuídos por todo o território nacional, número suficiente para tratar com dignidade toda a nossa população. Temos uma história de responsabilidade social reconhecida internacionalmente. Não há sequer um único médico oftalmologista que não tenha participado, nos últimos anos, de alguma ação social. Vamos continuar contribuindo para o aprimoramento da Política Nacional de Atenção Especializada em Oftalmologia (PNAEO), para que o SUS possa oferecer à população brasileira uma melhor atenção à saúde visual.

Reiteramos que o CBO sempre foi parceiro e que a Oftalmologia brasileira sempre demonstrou sensibilidade social. Certamente é a especialidade médica que tem maior resposta às provocações e as melhores proposições que o Ministério da Saúde têm feito.

Milton Ruiz Alvesé presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e professor associado da Faculdade de Medicina da USP