Por Márcio Falcão

BRASÍLIA, DF, 25 de março (Folhapress) – Um dia após a Standard & Poor’s reduzir a nota do Brasil, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) colocou em dúvida hoje a credibilidade da agência de risco e defendeu a política econômica do governo Dilma.

A oposição vai pedir a convocação do ministro Guido Mantega (Fazenda) e do presidente do Banco Central Alexandre Tombini para prestarem esclarecimentos na Câmara sobre o rebaixamento.

A deterioração das contas públicas, a perspectiva de baixo crescimento e a piora no deficit nas transações com o exterior foram apontados como motivos para a classificação do Brasil. A nota caiu de “BBB” para “BBB-” (a mesma da Espanha e das Filipinas), com perspectiva neutra ou seja, a agência não pretende alterar a avaliação ao menos até 2015.

A ministra alfinetou a agência afirmando que a Standard & Poor’s não conseguiu identificar a crise financeira internacional que abalou grandes economias.

“A nota de uma agência de risco que não conseguiu sequer perceber o risco da crise de 2008 tem que ser levada em consideração com as consequências que isso pode advir, mas sempre relevando porque aquilo que vem sendo feito no Brasil tem melhorado de forma significativa a vida da população”, afirmou a ministra.

Apesar das críticas aos erros das agências de risco, principalmente no pico da crise global, em 2008, essas avaliações ainda servem de parâmetro para grande parte do mercado internacional. Suas decisões tendem a causar impacto no dólar e na Bolsa.

Segundo Ideli, os parâmetros econômicos estão preservados. “Os números da economia brasileira são sólidos e contundentes no sentido da qualidade de vida da população. É o emprego, o controle macroeconômico, são as nossas reservas cambiais, é o investimento direto que nós temos tido, inclusive bastante diferenciado de outros países, portanto, temos a convicção que estamos trabalhando conforme os interesses da maioria da população e preservação da economia brasileira”, completou.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), apresentou requerimento para convocar Mantega e Tombini para tratar da classificação do país. “O rebaixamento trouxe o país para uma posição perigosa, haja vista que um rebaixamento adicional tirará o Brasil do grau de investimento, reposicionando-o como nação de grau especulativo”, disse o líder.

A expectativa de um possível rebaixamento se arrastava desde junho do ano passado, quando a agência colocou a nota brasileira em perspectiva negativa.

O rebaixamento foi recebido com surpresa pelo Planalto. Esperava-se no governo que uma decisão viesse a ser tomada daqui a dois ou três meses.

Em nota, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que a redução da nota é “contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil”.

BNDES

O presidente do BNDES (banco estatal de desenvolvimento), Luciano Coutinho, afirmou que o mercado financeiro recebeu com “tranquilidade e maturidade” a notícia de rebaixamento na classificação de risco do Brasil pela agência. “Esse fato já estava precificado”, disse.

Coutinho afirmou que a Bolsa de Valores continua firme e o dólar recuava no início da manhã. “Aparentemente, até agora, o impacto de custo de capital não é relevante.”

O presidente do BNDES afirmou também que outras duas agências classificadoras de risco mantiveram sua avaliação sobre o Brasil.

“Eu respeito a classificadora que reduziu, mas tenho confiança na firmeza da política fiscal brasileira, e o futuro mostrará a consistência, os resultados demonstrarão que é uma política de controle das condições de endividamento.”