Por Lúcio Flávio

BRASÍLIA, DF, 19 de abril (Folhapress) – Um dos casos mais marcantes na luta contra a ditadura militar, a morte do jornalista Vladimir Herzog, nos porões da repressão, até hoje comove milhares de brasileiros. Torturado e assassinado pelo regime, sua história já foi contada em inúmeros livros.

Vencedor do prêmio Jabuti na categoria biografia e 2013, “As Duas Guerras de Vlado Herzog – Da Perseguição Nazista na Europa à Morte sob Tortura no Brasil”, lançado hoje na 2ª Bienal do Livro e da Literatura, em Brasília, é mais um olhar sobre essa tragédia.

O novo registro é de quem viveu de perto estes momentos de agonia e tristeza. Na época, o autor Audálio Dantas era presidente do sindicato dos jornalistas e um dos líderes do movimento de resistência democrática.

“Quando ele foi assassinado, só ‘O Globo’ deu uma reportagem e falando sobre a morte de um opositor do regime”, lembrou o autor, no debate “O Caso Vlado e As Relações da Imprensa com a Ditadura”.

“De qualquer forma, o caso teve repercussão entre seus pares e a sociedade brasileira, dando origem ao primeiro movimento de massa após o AI-5 de 1968, o início do fim da censura na imprensa brasileira”, destacou.

Testemunha ocular da comoção que o crime resultou, Dantas lembrou a grande concentração realizada na Catedral Metropolitana de São Paulo, na Praça da Sé, e que a “Folha de S.Paulo” foi o primeiro grande jornal a apoiar o feito, por meio de um editorial.

“Foram mais de 8.000 pessoas, mas só cabiam 2.000 na igreja, 6.000 assistiram ao ato ecumênico de fora, com a presença silenciosa de dom Hélder Câmara”, descreveu.

“Esse editorial promoveu o primeiro momento de retirada da censura”, contou.

Uma das primeiras convidadas a participar da Bienal para lançar o “Almanaque 1964”, a jornalista Ana Maria Bahiana falou dos tempos em que trabalhou com Herzog na revista “Visão”.

Bastante emocionada, ela detalhou o último encontro que teve com o chefe e amigo, um dia antes de sua morte.

“Ele tinha vindo à sucursal da revista no Rio para uma reunião e a gente foi levá-lo no aeroporto. E nunca mais o vi”, disse.