Muito se fala sobre acidentes de motos e, a grande maioria das pessoas não tem a menor ideia sobre os fatos que envolvem este assunto. É importante que a sociedade saiba o que é feito e o que se pode fazer, pois acredito que todos nós temos um motociclista na família ou no círculo de amizade e podemos influenciar direta ou indiretamente para que se qualifique e pilote com segurança.

A frota de motos aumentou muito nos últimos 10 anos, e com ela o número de acidentes o que torna ainda mais importante as ações de prevenção e desenvolvimento do segmento de motos no trânsito.

Uma pesquisa realizada pela USP, em parceria com o Hospital das Clínicas e Abraciclo, constatou que os acidentes que acontecem com motociclistas profissionais representam 23% em relação ao total dos registros. Considerando que 50% da frota da cidade onde foi feita a pesquisa é de profissionais, este número mostra que qualificação e experiência são determinantes para segurança na condução de uma motocicleta.

Há também ações promovidas isoladamente por fabricantes com treinamentos teóricos e práticos. A Honda, por exemplo, já realizou 80 mil treinamentos de pilotagem com aulas práticas e teóricas em seus três centros de pilotagem, que além de qualificar cidadãos, são usados também para o aperfeiçoamento de policiais, exército, bombeiros e muitos outros profissionais do serviço público e privado. Concessionários de motocicletas também realizam palestras e treinamentos práticos em todo o Brasil, mas precisamos de ações ainda mais efetivas e abrangentes.

A educação para o trânsito deveria começar ainda na escola. Os exames para a habilitação deveriam ser mais rigorosos, completos e progressivos. Quem está tirando a CNH passa por um período de um ano de experiência, para então receber a habilitação definitiva. No entanto, mesmo neste período ele já pode conduzir qualquer tipo de motocicleta, tenha ela cem ou mil cilindradas. Quem pilota moto sabe que são universos completamente distintos.

Outros fatores de impacto direto no número de acidentes são: ausência de uma política pública de sinalização, falta de faixas exclusivas, medidas de trânsito que considerem a existência da moto, além das vias cheias de buracos. Quase tudo o quê existe hoje, em termos de via pública, foi feito desprezando a existência de motocicletas, principalmente porque são projetos de uma época em que as motos representavam uma parte ínfima da frota de veículos. Hoje a realidade é outra.

Exemplo disto são alguns tipos de tinta utilizados para demarcar as vias. Por serem muito lisas provocam acidentes mesmo quando o motociclista está em baixa velocidade. Tampas de esgoto em ferro também são lisas e igualmente perigosas.

Nas regiões Norte e Nordeste do país, a frota de motos regulamentada tem crescido muito, porém, ainda não são contabilizadas as motos de até 50 cilindradas, as quais muitas vezes protegidas por lei, não são emplacadas. Estas ficam à margem de toda e qualquer lei que regulamenta o universo das duas rodas. Só em 2013, mesmo com uma crise que atingiu o setor de motocicletas, foram importadas mais de 160 mil unidades destes modelos, mas como não são emplacadas, pouco se sabe sobre elas.

Passou da hora do poder público incluir estas motonetas na legalidade, nas exigências da lei e nas estatísticas. Não podemos mais tolerar a ausência de placas nestas motos, usuários sem habilitação e instrução, menores de idade pilotando, ausência de capacetes e itens mínimos de segurança nestes modelos.

É claro que o motociclista é o maior responsável por sua própria segurança, afinal, a vida é dele, mas ninguém está sozinho no trânsito. Pedestres, ciclistas, motociclistas, motoristas devem fazer cada um a sua parte para não se prejudicarem e machucarem os que estão ao seu redor. Todos devem ficar atentos e contribuir, no mínimo, com atenção e cuidado, pois 50% dos acidentes ocorrem por interferência de terceiros e 88% por imprudência. Enfim, todos temos que zelar por um trânsito mais seguro e harmonioso.

Fernando Medeiros é diretor executivo da ASSOHONDA