Brasil repete casos que geraram punição ao Barça; CBF não explica

Por Eliano Jorge

SÃO PAULO, SP, 24 de abril (Folhapress) – Três estrangeiros menores de idade jogaram competições oficiais no Brasil, entre 2009 e 2013, sem cumprir requisitos determinados pela Fifa.

No começo de abril, a entidade puniu o Barcelona e a Real Federação Espanhola de Futebol por casos semelhantes ocorridos no mesmo período. Ontem, a Fifa aceitou recurso e liberou momentaneamente o Barcelona para fazer contratações.

Um jogador do Cazaquistão e dois de Camarões defenderam o Olé Brasil em Campeonatos Paulistas sub-15 e 17. Um dos africanos também atuou pelo Cruzeiro no Mineiro sub-17 e na Copa do Brasil da mesma categoria.

Questionadas por telefone e e-mail, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e as federações paulista e mineira não souberam apontar quais mecanismos da legislação permitiram que os atletas fossem registrados.

A Fifa permite transferência internacional de jogadores sub-18 em apenas três circunstâncias: se ele estiver acompanhando os pais na emigração, e não o inverso; caso o atleta tenha mais de 16 anos e os dois países pertençam à União Europeia; se a residência do jogador estiver a no máximo 50 km da fronteira e o clube também.

“Não conheço nenhuma exceção a essa regra”, opinou, sob anonimato, um especialista ligado à CBF e que considerou irregular a situação do cazaque e dos camaroneses.

Os três, agora, possuem mais de 18 anos. Os dois africanos estão em times do exterior.

O Cruzeiro não soube justificar o registro do atleta camaronês menor de idade.

O agente Fabrício Zanello, que foi dirigente do Olé Brasil e responsável pela presença da dupla camaronesa no Brasil, também não conseguiu explicar a legalidade do trio de estrangeiros em torneios oficiais.

“Passavam fome”

Os garotos vieram participar de um projeto de intercâmbio financiado por governos nacionais, como dezenas de outros candidatos a jogadores. Deveriam ficar durante alguns dias, mas se destacaram e foram convidados a permanecer.

Zanello argumentou que a vinda beneficiou os africanos em diversos sentidos.

“Os dois passavam fome lá, comiam uma vez por dia. Não tinham banheiro, só conheciam fossa, viviam em casa de madeira. Aqui tinham quatro refeições, aprenderam a ter educação”, disse o empresário.

Outros clubes também avaliaram que não podiam escalar estrangeiros menores de idade em campeonatos oficiais e aguardaram a maioridade dos atletas.