O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures ocupou, durante pouco mais de três anos, a chefia de gabinete do vice-presidente da República e presidente nacional licenciado do PMDB, Michel Temer. Nessa condição, esteve no olho do furacão do poder central do País e acompanhou de perto o governo Dilma Rousseff e o processo político federal. Para ele, ao contrário do que imagina a oposição, as chamadas jornadas de junho foram benéficas para o governo, porque foram o reencontro da sociedade brasileira com o seu destino. 

Na avaliação de Rocha Loures, que integra a Executiva Nacional peemedebista, o governo tem tudo para recuperar sua popularidade e apoio popular a medida em que a Copa passar e a campanha eleitoral começar. Em relação ao Paraná, o dirigente está convencido de que o PMDB acabará optando pela candidatura própria do senador Roberto Requião ao governo. Até porque, aponta, a disputa representa uma prévia das eleições municipais de 2016. E os peemedebistas não poderão apoiar a reeleição de Beto Richa (PSDB), já que na maioria dos municípios, os tucanos são adversários dos candidatos a prefeito do partido. Em entrevista ao Bem Paraná, Rocha Loures explica como vê o momento político atual do País e explica porque considera a candidatura própria o melhor caminho para seu partido no Estado.
Bem Paraná – O senhor a chefia de gabinete do vice-presidente por mais de três anos. Como vê o momento atual do governo Dilma?
Rodrigo Rocha Loures – Vejo muito bom, porque no plano do que cabe o governo fazer, está fazendo. Tanto dando seguimento aos programas já existentes, como o Mais Médicos, Minha Casa, Minha Vida, PAC mobilidade, etc. A presidenta está inaugurando estradas, fazendo obras. É inevitável que com o processo eleitoral, o governo também tem que responder aos questionamentos que estão sendo feitos por conta da CPI da Petrobras, e vai responder no Congresso. Sobre a velocidade no andamento das obras. Em relação à economia, a meu ver, vai bem. Poderia estar melhor, mas vai bem. Tudo depende do ângulo em que você faz a sua análise. Se você faz do alto da montanha, talvez ache que poderia ir mais longe. A população humilde, eu acho que está mais satisfeita do que insatisfeita. Aqueles que estavam acostumados com uma estabilidade de ganhos continuada eventualmente acostumou-se a imaginar que isso é quase que uma garantia dada para o governo, o que não é verdade. Há um processo de recuperação da economia mundial. Os Estados Unidos se recuperaram, a Europa também. A China continua impondo sua influência.
BP – As pesquistas tem mostrado um crescimento dos candidatos de oposição. Acha que a reeleição da presidente está ameaçada?
Rocha Loures – Na campanha, o governo tratará do que fez e dos compromissos que assumiu. O eleitor vai escolher que lhe parecer mais preparado. Eu acho que as coisas já estão ficando mais claras. Eu acho que o movimento de junho foi muito saudável para o governo e para a democracia brasileira. Eles foram o reencontro da sociedade brasileira com o seu destino. Foi um movimento cívico que disse ‘nós queremos um Brasil melhor’. E foi ouvido por todas as lideranças nacionais, de situação e de oposição. Porque acabou em junho? Porque houve aproveitamento político em vários locais do Brasil. Os partidos resolveram capturar a cena e usar o movimento como figuração, sendo que eles, os partidos eram a figuração. E assim você viu que quando o próprio movimento percebeu que estava sendo infiltrado, o cidadão, o movimento legítimo, ele abandonou. Ficaram só os movimentos de contestação. Quando você diz que o governo da presidenta Dilma perdeu popularidade é preciso dizer também que todos os governos do Brasil, incluindo prefeitos, governadores, todo o poder constituído foi afetado pelos movimentos de junho porque a cobrança foi generalizada. Todos os poderes. Executivo, Legislativo e Judiciário. As instituições brasileiras foram questionadas. Não há preocupação da campanha da Dilma. Nas grandes cidades você tem uma impressão de asfixia. Esse sentimento você não tem no interior do Brasil. Eu percebo que há um exagero na descrição do cenário econômico futuro que me parece eleitoreiro.
BP – E como esse cenário deve ser refletir na campanha?
Rocha Loures – O eleitor, acredito eu, vai olhar para a sua realidade. E para ele, a palavra mudança, terá outros significados. A mudança, para quem teve conquistas recentes, pode significar um risco. Significa que eu vou perder os espaços que eu conquistei? Que haverá uma mudança drástica da gestão? Uma mudança de curso como o sequestro das poupanças, como o Collor fez? Pelas informações que a gente tem, dentro de casa e fora de casa, o mundo aí fora não é esse horror que está se tentando pintar. Mas eu entendo que é o processo eleitoral. Eu prevejo que esse ano vai ser bom para a economia, animado e eventualmente turbulento por conta das eleições. Um ano muito emotivo, que você vai ter as alegrias e emoções da Copa. E depois o País vai se dividir porque tem que escolher quem vai lhe governar.

 PMDB

Deputados estão desconectados da base

Bem Paraná – O senhor tentou intermediar um encontro entre o senador Roberto Requião e o ex-governador Orlando Pessuti, proposto pelo vice-presidente Michel Temer, mas o Pessuti se recusou. Ainda vê chance de uma reconciliação entre os dois?
Rodrigo Rocha Loures – Eu vou trabalhar para que o Requião e o Pessuti sentem à mesma mesa, como o presidente Temer, que os convidou, que é o presidente do nosso partido. Em nome da unidade do partido. Acho que essa conversa deve acontecer. Afinal se trata de dois dos maiores líderes que nós temos no partido. Não há porque questões pessoais desta ou daquela ordem impedirem que eles possam caminhar juntos mais uma vez. Atendendo a nossa militância que quer a candidatura própria do PMDB. Porque a campanha de 2014 a governador também é o primeiro turno das eleições municipais de 2016. Eu vou tentar fazer isso (um acordo entre Requião e Pessuti) até o dia 20 (data da convenção). Essa unidade eu percebo como difícil neste momento. Mas no meu entendimento, quem tem as melhores condições de unir o PMDB é o Requião. O Requião, inclusive, topou sentar com o Pessuti, mas o Pessuti ainda não. Ainda está pensando. Eu acho que em política conversar é uma necessidade. Quem não se comunica não se entende. O convite foi feito a ambos para uma conversa aberta, sem uma fórmula pronta. Eu acho que na convenção vencerá a tese da candidatura própria para que haja a sobrevivência do PMDB.
BP – Mas os deputados estaduais estão hoje, em sua maioria, defendendo a aliança com o PSDB.
Rocha Loures – Os deputados que ainda vacilam com relação à sua posição estão desconectados com sua base. A base diz para eles : ‘aqui na nossa cidade o PSDB vai ser nosso adversário em 2016. Nós não podemos deixar que eles cresçam agora, porque se não a gente some amanhã. Então eu vou para outro partido’. Eu acho até que os deputados estaduais estão esperando os prazos legais de repasses do Estado terminarem.
BP – Os deputados alegam que uma candidatura do Requião hoje dificilmente atrairia outros partidos, e sem uma aliança, o PMDB não reelege metade da bancada na Assembleia.
Rocha Loures – Em 2006, o PMDB elegeu oito deputados federais com chapa pura. Nas eleições de 2010, elegemos seis deputados federais com coligação. Se a experiência vale para alguma coisa eles estão falando bobagem. Em relação os deputados estaduais, eu não me recordo bem, mas acho que em 2006 foram quinze.

Aliança

Eleição fácil com aprovação do eleitorado

Bem Paraná – O senhor acha que essa questão dos empréstimos ao Paraná terá impacto na campanha eleitoral para o governo do Estado?
Rodrigo Rocha Loures – Essa história de dizer que o Paraná foi perseguido pelo Tesouro Nacional não corresponde à verdade. É uma falseta que está sendo utilizada para encobrir inabilidade administrativa e a má gestão de caixa feita pelo governador do Estado. Isto e mais nada. A ideia é politizar a questão, vitimizar-se. O que não resolve o salário dos professores, dos policiais militares, não paga os investimentos, não asfalta ruas nem estradas. Discursos e debates com relação a responsabilidades não vão mover a máquina pública.
BP – Ainda em relação ao PMDB, os deputados estaduais favoráveis à aliança com o PSDB alegam que nas eleições anteriores, quando o partido elegeu grandes bancadas, estava no governo. E que hoje, a situação seria diferente e bem mais difícil para o partido concorrer com chapa pura. O que o senhor acha?
Rocha Loures – A tese deles então não é partidária. É governista. Então eles não se importam (com o partido). Eles deviam fundar o PG, que é o partido governista. Esta tese não se sustenta. Nós somos eleitos pelo partido e apoiados pelos nossos eleitores e nossa base eleitoral. Nós não somos eleitos por governos. Governo não é muleta. Se fosse assim as oposições nunca venceria as eleições. Os deputados estaduais, me parecem, estão encantados pela possibilidade de uma eleição fácil. Eleição só é fácil quando você tem aprovação do eleitorado, não do governador, do presidente da Assembleia, da Câmara. Eu nunca vi um atleticano, quando vai no estádio do Coxa, vestir a camisa do Coxa para ficar de bem com a torcida alviverde. Nem o contrário. Um torcedor do Coxa vestir a camisa do Atlético porque foi na Arena da Baixada. Cada um defende o seu time, as suas ideias. Eu sou PMDB. Por isso quero a candidatura própria do partido ao governo e acredito que essa será a tese vencedor na convenção estadual do partido.

Empréstimos

Discriminação federal não passa de oportunismo

Bem Paraná – Os deputados da ala pró-aliança com o PSDB dizem que o Requião já foi derrotado recentemente duas vezes em disputas internas do PMDB, inclusive na eleição do diretório estadual. Porque o senhor acha que agora vai ser diferente?
Rodrigo Rocha Loures – Entre outras razões porque eu que estava do outro lado agora estou pela candidatura própria. Eu disputei com o Requião as outras duas vezes porque eu entendi que era necessário oxigenar a direção partidária e dar oportunidade para outro grupo desenvolver o seu trabalho. E as outras duas disputas, foram disputas de política interna do partido.
BP – Até que ponto acha que o caso André Vargas, mais as acusações de discriminação contra o Paraná afetaram a candidatura da senadora Gleisi Hoffmann (PT)?
Rocha Loures – Acho que o episódio do André afeta a candidatura da Gleisi no que diz respeito ao questionamento da imprensa às eventuais ligações que haviam entre o deputado e a coordenação da campanha dela. Ele dizia que era candidato ao Senado, que ia compor a chapa. O André foi, se eu não me engano, o deputado mais votado do PT nas eleições passadas. Então é um desfalque, politicamente para o PT, importante. Acho que o André vai se defender, foi a opção que ele fez, optou por ficar no mandato, saiu do PT. Não tem mais conexão formal. E a Gleisi já falou em várias oportunidades que ela é ela e ele é ele. Mas que afeta, afeta.
BP – O governador Beto Richa acusa o governo federal de discriminar o Paraná ao bloquear empréstimos ao Estado. O que o senhor acha dessa acusação e até que ponto isso pode ter impacto na campanha?
Rocha Loures – Eu acho uma acusação desinformada. Mal posta. E oportunista. Porque tenta transformar uma insuficiência de crédito fruto de má administração, com um veto político. Como se eu pudesse criticar o gerente do banco porque a minha posição de crédito, estando comprometida, fosse negada por ele. O Tesouro Nacional é fiador dos Estados quando eles contratam empréstimos com organismos internacionais. Se os números revelam insuficiência de crédito não são pessoas que vão resolver isso. Nenhum administrador público, sob pena de ir para a cadeia, vai autorizar um empréstimo, quando as condições para que ele seja contraído não existem.
BP – O governo alega que outros estados em situação pior receberam empréstimos.
Rocha Loures – Eu pergunto: a Fazenda do Estado do Paraná conhece a situação fiscal, de caixa dos outros estados brasileiros com profundidade? Não conhece. Porque não é sua responsabilidade. É do Tesouro Nacional. Por isso que o Banco Central controla todas as contas. Todas as movimentações acima de R$ 10 mil.