JEFERSON BERTOLINI FLORIANÓPOLIS, SC – A greve de 24 horas de motoristas e cobradores de Florianópolis atrapalhou a vida de cerca de 330 mil pessoas nesta quarta-feira (28) e voltou a prejudicar o comércio da capital catarinense. Por causa da paralisação, a segunda em três semanas, a Polícia Militar reforçou o patrulhamento na cidade. O objetivo da PM é escoltar rodoviários que discordam da paralisação e evitar atrito entre passageiros e sindicalistas, como ocorreu em 8 maio, na primeira paralisação da categoria. Apesar disso, poucos ônibus circularam pelas ruas de Florianópolis.

O presidente do sindicato das empresas, Waldir Gomes, disse que os ônibus que saíram no início da manhã voltaram às garagens por volta das 9h por “falta de segurança”. “Achamos melhor recolher os carros porque vimos muitos piquetes pela cidade. Os motoristas que decidiram trabalhar não estavam se sentindo seguros”, disse. De acordo com o tenente-coronel Araújo Gomes, comandante do policiamento no centro, 80 policiais foram escalados para o trabalho.

A Guarda Municipal informou que 30 agentes foram enviados às ruas para ajudar no trânsito, que registra filas acima da média por causa da falta de ônibus, e auxiliar no sistema provisório de vans. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade Urbana, 200 vans foram autorizadas a operar o transporte de passageiros nesta quarta. Elas circulam apenas nos pontos mais movimentados da cidade e cobram até R$ 7 pela passagem -nos ônibus, para pagamento em dinheiro, o bilhete custa R$ 2,90.

DEMISSÕES

O protesto dos motoristas e cobradores começou à 0h desta quarta-feira (28) e deve durar 24 horas, segundo a categoria. Eles são contra os ajustes no uso da catraca eletrônica, previstos no novo sistema de transporte da cidade, em vigor desde abril. Segundo os rodoviários, o novo sistema provocará a saída de 350 cobradores e sobrecarregará os motoristas, que terão de cobrar as passagens em dinheiro. O prefeito Cesar Souza Junior (PSD) criticou o protesto, e voltou a dizer que nenhum cobrador será demitido sem justa causa -após o protesto de 8 de maio, ele assinou decreto em que se compromete a investigar todas as rescisões de contrato para ver se não houve pressão das empresas. A bilhetagem eletrônica existe em Florianópolis desde 2003, quando a cidade adotou o sistema de integração de terminais. Segundo o presidente do sindicato das empresas, Waldir Gomes, 15% das passagens são pagas em dinheiro e 85% em bilhetes eletrônicos. O diretor de Comunicação do sindicato dos motoristas e cobradores, Dionísio Linder, informou que a categoria cogita para semana que vem uma greve geral. Além da manutenção dos empregos dos 350 cobradores, o sindicato pede reajuste salarial de 10,18% -os patrões ofereceram 8%. A categoria também pede “melhores condições de trabalho” e “mais conforto aos passageiros” — na semana passada, em protesto contra o “aperto nos coletivos”, o sindicato distribuiu latas de sardinha aos passageiros.

PERDAS NO COMÉRCIO

O diretor de Assuntos Públicos da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Florianópolis, Márcio Vieira, disse que o protesto de motoristas e cobradores é “um afronte”. “É uma minoria prejudicando uma maioria”, reforçou. Ele disse que maio deveria ser um dos melhores meses do ano para o comércio local por causa do Dia das Mães, mas os filiados registram perdas “de até 80%” por dia parado por causa das “seguidas paralisações” do transporte público. Desde 2003, motoristas e cobradores fizeram dez paralisações no mês de maio -a exceção foi em 2010, quando o reajuste salarial terminou em acordo na primeira reunião entre patrões e empregados.