HEITOR MAZZOCO
RIBEIRÃO PRETO, SP – Com o registro oficial de apenas 0,8 milímetros de chuva, maio foi o mais seco dos últimos 11 anos em Ribeirão Preto. Os dados são do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas.
O pior índice para o mês de maio, até então, havia sido registrado em 2006, com 2 mm. A seca na região prejudica as lavouras, como as de cana-de-açúcar e café.
A safra do café deve ficar prejudicada em até 40%, segundo o mercado. O período entre janeiro e março é o principal para o desenvolvimento dos grãos do café, o que não aconteceu neste ano.
A expectativa é que chova durante o inverno deste ano, que começa no dia 21, para diminuir a perda.
Para o gerente de insumos da Coopercitrus (Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores de São Paulo), Laércio Ernesto de Souza, o problema é o peso do café, porque “os grãos ficam deformados e os tamanhos, diferentes”.
Entre cafeicultores cooperados, Souza disse que muitos falam em perdas de 15% a 40%. As principais baixas são em lavouras novas ou com solos diferenciados, com pouco histórico cafeeiro.
Marcelo Barbosa Avelar, vice-presidente da Coonai (Cooperativa Nacional Agroindustrial), disse que até junho os produtores viveram expectativa sobre o período das chuvas. Agora, segundo ele, começa a análise dos grãos.
Entre a região de Ribeirão e o Sul de Minas Gerais, segundo Avelar, os problemas mais graves na lavoura serão em Minas, onde o clima seco foi mais predominante.
Já a safra da cana-de-açúcar também deve apresentar queda na região, porém menor que a do café: 8%.
O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, disse que o melhor para as usinas é atrasar a colheita. “Vai melhorar, mas não tanto [a safra]. Vai voltar a chover na segunda quinzena de julho. Se tiver chuva antes, é isolada.”
Para ele, as regiões de Presidente Prudente, Norte do Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul terão as maiores perdas na safra de cana.
Willian Hernandes, da FG/Agro de Ribeirão, disse que o fenômeno climático El Niño deve antecipar o período de chuvas e minimizar os impactos da seca. “Um dos reflexos foi a queda do preço da energia elétrica, bem sensível às chuvas, que saiu de R$ 800/MWh, em abril, para R$ 500/MWh, em maio.”
Entre janeiro e março deste ano, a região teve o pior trimestre climático para a seca desde 1937, segundo estudo divulgado pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas). Em 2014 foram cerca de 200 milímetros de chuva, inferior aos 250 mm de 1956.
RIO PARDO
Com registro mínimo de 60,6 centímetros no mês de maio, o nível do rio Pardo é o pior desde 1963 em Ribeirão Preto, segundo dados do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Naquele ano, a profundidade chegou a 55,4 centímetros no mesmo mês.
A vazão do rio chegou a 61,7 mil litros por segundo. Em condições normais, de acordo com o diretor regional do Daee, Carlos Alencastre, a vazão é de 500 mil litros por segundo.
“Se chover, o nível sobe um pouco, mas depois volta [a ficar baixo]. Quando chegar agosto vamos atravessar o rio Pardo a pé.”
A expectativa de Alencastre é que a partir de outubro o nível de chuva volte ao normal. Os melhores períodos para cheia dos rios são os meses de dezembro e janeiro (verão). “Mas este ano foi totalmente diferente e, se continuar sem chuva, será recorde”, afirmou.
A medição do nível do rio Pardo começou em 1941. Nos meses de maio, os índices foram menores que um metro também nos anos de 2001, 2003 e 2006.
O Daee faz dragagem –limpeza– para atender as cidades em situação crítica de abastecimento. Segundo Alencastre, Santa Rita do Passa Quatro, Tambaú, Bebedouro e Santa Cruz das Palmeiras pediram ajuda.