CAMILA DE LIRA SÃO PAULO, SP – Um grupo de criminosos em Santa Catarina usou informações divulgadas por uma criança no Facebook para escolher o alvo de um sequestro: o próprio Ângelo Antônio de Oliveira, de 9 anos, que havia postado dados sobre ele e sua família na rede social. Ângelo foi sequestrado na cidade de Ilhota, a 82 km de Florianópolis, na noite de quinta-feira (29), e resgatado com vida cinco dias depois, em uma operação da Polícia Civil de Santa Catarina. Filho do empresário Jean Carlos de Oliveira, a criança foi levada por Peterson William Silva Machado, 34, enquanto aguardava o pai em frente a uma quadra de esportes na rua onde moram. Os sequestradores exigiram R$ 500 mil para liberar a criança, mas o valor não chegou a ser pago. De acordo com o delegado Anselmo Cruz, que investiga o caso, o crime foi planejado com base em informações pessoais publicadas por Ângelo e seus familiares em redes sociais. “A escolha pontual do alvo foi por meio do Facebook”, diz Cruz, responsável pela Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) de Santa Catarina. Nos perfis de membros da família na rede social, havia publicações de fotos de carros de luxo, apartamentos de alto padrão e objetos eletrônicos. “Coisas assim chamam atenção numa cidade pequena”, afirma o delegado. O casal Peterson William Silva Machado, 34, e Rosicleite Rodrigues, 32, que segundo a polícia planejaram o sequestro, foram presos. Os dois responsáveis pelo cativeiro, Fernanda Marin, 18, e um homem identificado ainda apenas como “Gão” foram baleados durante a operação e morreram no local. Segundo depoimento dos sequestradores ao delegado, os acusados fizeram uma lista de empresários mais ricos da cidade e, depois de pesquisas nas redes sociais, concluíram que a família de Ângelo poderia ser a mais rica e vulnerável. “Eles falaram que acharam boa parte das informações lá [no Facebook]”, diz Cruz. A família de Ângelo é dona de uma fábrica de roupas de praia e lingeries. EXEMPLO Para o delegado Anselmo Cruz, o caso deve servir de exemplo para alertar os internautas sobre o uso seguro das redes sociais. “Esse caso foi uma situação extrema, mas, cotidianamente, a delegacia tem enxergado o Facebook facilitando a escolha de alvos de crimes comuns, como assaltos residenciais”. Segundo o delegado, a divulgação de informações que indiquem, por exemplo, endereço residencial podem servir como “isca” para criminosos. Ele também alerta para o risco de divulgar informações sobre localização, o que é conhecido nas redes sociais como “check-in”. “O ‘check-in’ é algo perigoso, algumas pessoas mostram onde estudam, onde almoçam todos os dias e deixam esses conhecimentos públicos para um criminoso”, diz o delegado. Um exemplo de risco citado por Cruz é a divulgação sobre viagens. “Quando faço um check-in no aeroporto e escrevo que estou indo viajar para tal lugar, indico publicamente que minha casa está vazia. Essa informação é uma falha grande de segurança.” Um fator que contribuiu para o uso das informações pelos sequestradores no caso de Ilhota, segundo o delegado, foi o fato de que muitos membros da família deixavam as suas publicações públicas, visíveis a todos os usuários, e não apenas para os amigos. “Se o perfil é público, fica mais aberto. Isso faz muita diferença na questão da segurança. São informações pessoais, da rotina da pessoa, que acabam ficando acessíveis para qualquer um.”