Como muita coisa em Roma – e na Itália – o Pallazo Pamphili é obra de um Papa. Era o reino também de sua controversa cunhada, Olimpia Maidalchini, chamada de papisa, tal o seu poder. O palácio tem na sua galeria o maior acervo de pinturas da capital italiana, reunido pela que ficou conhecida como Olim pia, nunc ímpia( antes pia, agora ímpia ou – outrora virtuosa) . Nascida em Viterbo, destinada ao convento, acabou acusando seu diretor espiritual de assédio, para fugir . Jovem, casada com um burguês, ficou viúva três anos depois, quando iniciou sua escalada social. Com seus vinte anos, conquistou o cardeal Pamphili Pamphij, mais velho do que ela 27 anos, irmão do futuro papa Innocenzo, em cuja corte acaba sendo a eminência parda.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Giovanni Battista Pamphili tornou-se para Inocêncio X em 1644 e durante 10 anos acumulou riquezas para si e sua família, incluindo a poderosa cunhada. Piazza Navona e toda sua beleza, foi encomenda do rico papa

UMA CASINHA
No Quattrocento, os Pamphilij, que acabavam de mudar de Gubio para Roma, adquirem uma pequena casa na piazza Navona, que ainda não era o coração da cidade. Lá constroem o palácio, quando Giovanni Battista se torna o papa Innocenzo X, em 1644, transformando o edifício em símbolo do poder da família. A galeria de arte, com 33 metros de comprimento e 7 de largura, foi projetada por Francesco Borromini, completando o edifício e transformando a vizinha igreja de Sant’Agnese.

Detalhes dourados, estátuas de mármore, medalhões de bronze, coroas de louros, tudo é pintura fantástica. O papa não era muito querido, muito menos sua cunhada. Innocenzo faz da piazza Navona o seu salão pessoal: contrata Gian Lorenzo Bernini para criar a Fontana dei Fiumi, enquanto o povo pedia pão.

A papisa manda e desmanda e consegue até fazer do filho de 17 anos um cardeal. Até que papa e papisa brigam, sem nunca mais fazerem as pazes. Morrendo, o papa deixa uma dívida de 48 milhões de escudos, um primado, e dos 6.238 conventos de 1650, fecha 25% dos estabelecimentos religiosos. Olimpia, viúva novamente em 1639, acaba expulsa de Roma e morre da peste, em 1657 com 66 anos, deixando de herança 2 milhões de escudos.

A igreja de Sant’Agnese foi encomendada pelo papa em 1652. Os primeiros arquitetos foram Girolamo e Carlo Rainaldi, substituídos por Borromini, que trabalhou na obra entre 1653 e 1657 . A Fontana dei Fiumi, inaugurada em 1651, tem o brasão do papa com uma pomba e o ramo de oliveira, decorando uma rocha que suporta o obelisco egípcio, antes parte do Circo de Maxêncio, na via Appia.

Bernini projetou a fonte,– paga com impostos impopulares sobre o pão e alimentos de primeira necessidade. Os grandes rios, conhecidos na época, estão representados: Ganges, Danúbio, Nilo e Rio da Prata, na forma de quatro gigantes.

A que é considerada a mais bela praça barroca de Roma, e talvez do mundo, seguiu a forma do stadium de Domiciano, que ocupava o lugar no passado. Alguns de seus arcos ainda são visíveis abaixo da igreja de Sant’Agnese in Agone. Agonias eram competições esportivas realizadas no stadium do século 1º , com capacidade para 33 mil espectadores. Outras fontes da praça são a de Netuno e do Moro.

O palácio Pamphili, de tanta história e tanta arte passou a ser, desde 1960, a Embaixada do Brasil. A mesma embaixada que a presidenta brasileira e sua comitiva, quando foram a Roma para assistir às cerimônias do papa Francisco, foi desprezada em troca de 52 apartamentos no cinco estrelas Excelsior. Onde a suíte especial custa mais de 6 mil reais por noite.


É na Piazza Navona, uma das mais belas do mundo, que fica a Embaixada Brasileira e sua fabulosa galeria de arte

OS CADEADOS DO AMOR – UMA PRAGA NA EUROPA
Milhares de cadeados com nomes de casais – as vezes do mesmo sexo – estão presos à mais antiga ponte de Paris. Que ameaça cair, abalada com o excesso de peso. A Ponte das Artes (Pont des Arts), no Sena, uma das mais bonitas da Cidade Luz , é a mais procurada porque tem grades que permitem colocar cadeados, cujas chaves são jogadas no rio. É o amor, preso para sempre.

Os parisienses- e os críticos- consideram essa mania como uma espécie de câncer metálico que toma conta da antiga ponte, estragando a paisagem. Os que colocam os cadeados acham que estão contribuindo para formar uma escultura moderna. A moda kitsch nem combina com a Pont des Arts, que foi construída no início dos anos 1800 e reconstruída em 1880.

Mas não é a única a sofrer pelos excesso de amor, ou entusiasmo do momento de recém enamorados. A Pont de l’Archevêché e a Passerelle Simone de Beauvoir também se transformaram em lugares populares entre aqueles que precisam gritar a quatro ventos que estão apaixonados.

Hoje as pontes são assunto de discussão entre os estetas clássicos e os contemporâneos que sofrem da compulsão exibicionista, que os obriga a expressar seus sentimentos íntimos ao público em geral. Tudo agravado pela simbologia de Paris, que sempre ostentou o título de cidade dos amores, tanto para turistas ,quanto para os residentes.

Para aqueles que prezam a arquitetura histórica, um tesouro de Paris, os cadeados são uma poluição visual. Há quem organize campanhas para persuadir a cidade a coibir essa mania. Que pesa, mas dá dinheiro ao imigrante indiano, que vende seus cadeados em plena ponte, a todos aqueles que esqueceram de levar o seu.


Fontes de Nettuno e do Moro datam do século 16, passando por várias reformas. A  figura conhecida como Il Moro foi um dos últimos trabalhos de Bernini

Os turistas transformaram as pontes cheias de cadeados em cenário para suas fotos. Alguns até saem de Londres para uma escapada em Paris, tendo como um dos objetivos a foto para o álbum de casamento. A polícia não incomoda aos turistas, mas fica atenta aos vendedores ambulantes de cadeados. Uma briga centenária, de gato e rato. Quando a noite cai e os policiais acabam seu turno, os indianos se materializam, vendendo reluzentes cadeados a pelo menos 5 euros os menores, e 10 euros os maiores.

Embora os cadeados do amor terem aparecido nas pontes parisienses em 2008, sua história tem pelo menos mais de 100 anos. Há casais que até mudam a data do casamento esperando condições de viajarem para a França, para poderem jogar a chave de um cadeado com seus nomes e data, colocado na grade da ponte. A esperança é de retornar um dia e procurar o precioso cadeado ainda por lá.

O que os turistas não sabem é que a Prefeitura de Paris vem retirando os painéis da ponte cada vez que ficam perigosamente pesados, substituindo-os por novos. Os velhos painéis são guardados, com todos os seus cadeados presos. Mas ficam estocados em um depósito. Sem vista para o Sena. Nem para uma das mais belas e tradicionais pontes parisienses.



A fontana dei Fiumi, de Bernini, foi criada no século 17 e representa os quatro maiores rios conhecidos na época: Ganges, Danúbio, Nilo e Rio da Prata

DESTAQUES
Há quase um mês a Enit – Ente nazionale per il turismo – que é responsável pelo turismo italino no mundo, viu seu presidente, Pierluigi Celli, pedir demissão. Durante dois anos na direção do importante órgão de promoção da Itália, Celli mudou três ministros, quatro oficiais de gabinete e cinco diretores gerais. Reclamando dos obstáculos e da falta de apoio, e dos 85 dependentes na Itália e cerca de 90 nos 23 países do exterior. Enit agora muda de nome: será Agit.

EUROPA NA LAVAGEM DE DINHEIRO
Hotéis, nightclubs, cassinos, construção, postos de gasolina, atacado de roupas e jóias, processamento de alimentos, saúde e bem estar, energia renovável: tudo está sendo utilizado na Europa para lavagem de dinheiro. Dados foram apresentados na União Européia, que tenta reforçar as leis contra o crime organizado. Além da ‘Ndrangheta, grupo da Calábria atuando no mercado da cocaína também na Grã-Bretanha, França, Alemanha, Espanha e Suíça, há também a Camorra, baseada em Nápoles, atuando na Espanha, e a Cosa Nostra, da Sicília, ativa em toda a Europa.


Sant’Agnese in Agone, que dizem ter sido construída no local de um prostíbulo de 304 d.C, onde foi torturada a santa

Mas há outras organizações criminais em ação, originais da Albania, China e Rússia, todos atuando em negócios legais setorizados. São grupos que aproveitaram a era de austeridade que atingiu o mundo e que armazenaram durante duas décadas uma quantidade incalculável de dinheiro. A liquidez permite que possam investir em qualquer campo, coisa que os empreendedores tradicionais já não conseguem.

Uma associação comercial italiana – Confesercenti – estimou em 130 bilhões de euros o movimento anual dos grupos criminosos .Algo em torno de 7% do produto nacional italiano. Um dos negócios preferidos é o de restaurantes. Em fevereiro, foram autuados 23 restaurantes e pizzarias em Roma. Alguns bem famosos.