Na margem sul do Sena, Rîve Gauche (6º arrondissement), em meio à toda história e tradição de Paris, no distrito residencial onde o metro quadrado é o de mais alto custo da Cidade Luz, fica o centenário Victoria Palace Hotel.

No bairro Cherche-Midi, entre Saint-Germain-des- Prés e Montparnasse, em uma ruazinha quieta mas bem junto da mais movimentada da região, a rue de Rennes, onde está a maior Fnac da cidade, ao lado da mais bonita Zara (no antigo prédio da confeitaria Felix Potin) o Victoria Palace ocupa o número 6 da rua Blaise-Desgoff desde 1903

O hotel é centenário, mas a quinta estrela chegou a pouco tempo, junto com a nova regra de atribuição de estrelas da Atout France. Enquanto o hotel refaz sua beleza, criando novos ambientes, agora com a assinatura de Michel Desbrosses, que foi aluno de Emilio Terry. Desbrosses ficou famoso internacionalmente ao projetar interiores de iates e moradias do armador grego Niarchos, sempre entre ricos e famosos discretos. Amigo de Philippe Smitt, proprietário do Victoria Palace, decorou também seu apartamento de Paris. E, em nome da amizade, faz sua incursão na hotelaria, na reforma que começou em fevereiro de 2013.

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Tecido floral, móveis de madeira de lei, conforto moderno no clima século XVIII

O hotel não fechou portas para a reformulação dos ambientes comum.Tudo tem sido feito aos poucos, modificando aqui e ali as propostas, conforme elas vão surgindo. Coisa assim de artista. Michel, Philippe e o diretor de vendas Michel Erwin, discutem juntos, combinam opiniões e acertam ponteiros, na procura da melhor opção de cores, tecidos, lustres.

Um século de vida, sempre na mesma família, faz do Victoria Palace uma história em camadas. É verdade que, para os hóspedes frequentes, o hotel sempre foi um cinco estrelas. Mas não aquele cinco estrelas palaciano, cheio de dourados e babados, ou aquele modernoso, onde o cliente acorda sem saber se está em Hong Kong, Dubai, Londres ou Roma. É mais a casa de um amigo de bom gosto, onde as pessoas são chamadas pelo próprio nome, reconhecidas a cada vez que retornam e encontram sempre os mesmos funcionários gentis e eficientes.

Claro que há mármore no banheiro.Um mármore muito especial, em tons vermelhos. Claro que os quartos têm tudo o que se precisa: televisão plana, internet, mini bar, aquecimento. Mas há detalhes que importam: Erwin coloca sempre uma lista de melhores endereços selecionados de lojas, boutiques, restaurantes, museus da Rive Gauche, que o hóspede pode frequentar caminhando. Destaca o melhor boulanger, o melhor chocolatier, os melhores chefs. Inovou agora com caderno que serve de diário para cinco dias, em inglês, francês, espanhol, português, russo e até chinês. Não faltam nunca o mapa, os jornais do dia, as revistas sofisticadas.

Dayse Regina Ferreira

O novo salão para o café da manhã, mais amplo e claro, onde reinam Judith e Alain

A recepção atende 24 horas, e faz reserva de restaurantes, providencia ingressos para shows e teatro, informa sobre passeios, excursões e contrata ônibus, minibus, carro particular com motorista, traslados de e para aeroporto e estação de trens.

Executivos podem requisitar serviço de secretárias, digitadores e aluguel de equipamentos. O salão de reuniões dá diretamente para o jardim interno, o que garante luz natural, coisa rara em hotéis. Rara também é a garagem, junto do hotel, um verdadeiro achado para quem viaja de carro pela Europa. A recepção também se encarrega de entregar flores, reservar tratamentos de beleza e massagens, no hotel ou no Spa das proximidades.

É por causa de tudo isso – localização, tranquilidade, bons serviços – que na lista de antigos hóspedes constam os nomes de Giorgio De Chirico, pintor italiano; Jim Reeves, cantor americano; Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua; S.M. Infanta Maria José, última rainha da Itália. E o rei Pelé.

Katherine Mansfield, escritora da Nova Zelândia, morou no hotel entre janeiro e junho de 1922; James Joyce, escritor irlandês, se instalou no Victoria Palace de setembro de 1923 até julho de 1924, quando foi publicado Ulysses. O marido de Katherine Mansfield fez a primeira crítica sobre o famoso livro e foi no bar do hotel que James Joyce explicou sua obra ao casal. Ponto de encontro de todos, o bar do hotel passa agora por reforma, completando a redecoração dos ambientes comuns, para tornar ainda mais agradável o lugar que foi o centro do mundo literário da época.

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Suite junior, um espaço perfeito

Hoje os amantes de arte que se hospedam no hotel sabem que vão poder visitar nas proximidades o Museu D’Orsay, o Museu de Luxemburgo, o de Bourdelle, o de Zadkine, o Maillol, e é claro, o Louvre. Também na região o museu de Rodin, o Quai Branly, a Fundação Cartier. Quem gosta de monumentos vai poder chegar a pé até a igreja de St. Sulpice, o Jardim de Luxemburgo, Invalides e circular pelo Saint Germain des Prés, de tantas histórias. Sem esquecer do Palácio Matignon, o Palácio Bourbon, a Capela da Medalha Milagrosa e St. Joseph des Carmes.

Para ver Paris do alto, basta subir na Tour Montparnasse, o prédio mais alto da região. Que, por sinal, realiza a 24ª. edição da Noite das Estrelas nos dias 1,2,3 de agosto. Serão disponíveis 7 estações de observação, no terraço do 59º andar, com funcionários da Associação Francesa de Astronomia.

No 56º andar haverá palestras com discussão sobre planetas, a nave espacial europeia Rosetta e sua missão. Saiba mais no www.tourmontparnasse56.com. E não deixe de tomar sua taça de champagne lá no alto de Paris. O melhor lugar é o Champagne Bar, no terraço panorâmico do 59º andar.

Em frente da torre fica o Restaurante 1900, para quem gosta de um bom chucrute Royal no inverno, ostras e frutos do mar o ano todo. Também por perto La Rotonde e o Dome, duas tradições francesas. Na esquina do Victoria Palace um mercado de bairro, bem sortido, resolve qualquer problema. O hotel não tem restaurante, mas aceita pedidos com lista especial de pratos, para servir no quarto ou no bar.

Dayse Regina Ferreira

Jardim interno, sempre uma fonte de luz

NÃO RESISTA
Impossível resistir à tentação de fazer compras na Fnac. São andares lotados de livros, música, filmes, eletrônicos, papelaria. Vive em constante burburinho, principalmente na proximidade do final de semana, quando os parisienses fazem estoque para o lazer do descanso. Também difícil não entrar na Zara, do outro lado da rua, para ficar sabendo das últimas tendências do pronto-para-vestir que segue de perto os lançamentos de moda.

Para ter um contato maior com os hábitos do povo, basta passar na feira de alimentos bio, que acontece três vezes por semana, inclusive no domingo. Junto com as bancas repletas de frutas, verduras, queijos, pães, frangos, peixes, há flores, lenços de seda e pashimina da Índia e Afganistão, utensílios de cozinha, bijuterias artesanais e em pedras semi preciosas de todos os cantos do mundo. Uma festa de cores e sabores, que vale a pena conhecer na região.

Dayse Regina Ferreira

Afrescos no corredor, novos caminhos

O MAGO DE BEKERLEY
Ele aprendeu com amigos – e sozinho – a falar português e hoje se orgulha de ter lido Guimarães Rosa no original. Já teve como livro de cabeceira as poesias de Vinicius de Morais. Michel Erwin é o contato com o mundo, viajando constantemente ao exterior para divulgar o hotel e Paris. Sempre que a agenda permite, vem ao Brasil para encontros de Turismo ou em viagem de férias.

Nascido em Bekerley, Califórnia, foi criado na Inglaterra, Suíça e França. Voltou aos Estados Unidos aos 18 anos, até ingressar na hotelaria, trabalhando no Arizona e em Nova York. Mas decidiu que queria ser expert em história da arte. Escolheu o melhor caminho para isso: Paris. Estudou na École du Louvre, de onde saiu com o diploma superior, para fazer Master’s degree na Sorbonne.

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Nas suites especiais, a grande sala de estar

Trabalhou como bibliotecário no Musée National de la Renaissance, assumindo depois o setor de relações públicas. Mas retornou ao campo da hotelaria, onde está até hoje, como Diretor de Vendas do Victoria Palace. Um hotel de estilo francês do século XVIII, entre o barroco do início do século e o rococó, marca de Paris.

Os apartamentos têm paredes revestidas com tecidos florais, em nove tipos diferentes. A mobília é Louis XVI, em madeira nobre maciça. O mármore entra na decoração de ambientes comuns e nos banheiros. Renovado em 2011, o hotel de cem anos reformulou agora o lobby, o salão restaurante ( café da manhã, um destaque do Victoria Palace, pela variedade à disposição dos hóspedes) e o Calico Parlour (Salão Indiano), que recebeu novo lustre e um ambiente mais clean e claro, tendo sido suprimida a lareira. O bar do lounge encerra os trabalhos, já que os sete andares com 62 quartos (32 suites – 4 superiores e 28 junior) mantém o estilo tradicional.

Uma única suíte tem vista para a Tour Eiffel e é muito requisitada, principalmente por jovens casais. Nada mais romântico do que ver a torre iluminada, clignotando à noite. Na reserva do quarto, um acréscimo de 60 dólares. Anote: 6 rue Blaise-Desgoffe – 75006 Paris, França. Telefone 33-0-1- 4549-7000; fax 33-0 1 4549-2375; – Saiba mais sobre tarifas, promoções e detalhes, no www.VictoriaPalace.com

Dayse Regina Ferreira

Michel Erwin, americano com alma francesa e carinho pelo Brasil

DISTÂNCIAS
Place Saint-Germain- des-Prés: 1 km; Museu Rodin e Mausoléu de Napoleão I – 1,2 km; Museu D’Orsay – 1,5 km; Museu do Louvre – 1,8 km; Notre Dame de Paris e Sainte Chapelle – 1,8 km; Place de la Concorde e Champs Elysées – 2,2 km; Tour Eiffel – 2,5 km; Arco do Triunfo – 4,6 km.