Quando cheguei ao Brasil para a Copa do Mundo me ocorreu que, no pontapé inicial do Mundial anterior, na África do Sul, o iPad tinha apenas alguns meses de vida. Desde então, a Apple já vendeu mais de 200 milhões de tablets e a experiência de segunda tela é quase uma regra. No momento em que Mario Gotze alçou a Alemanha para a glória do título mundial sobre a Argentina no Rio de Janeiro, o Twitter apresentava um crescimento de usuários de 13.500% em apenas quatro anos.
Há pouco tempo, assistir televisão era uma atividade que exigia concentração total. Tratava-se de uma atividade silenciosa e solitária. O “momento da TV” era precioso e, em um universo de três canais, “o evento televisão” podia parar uma nação. Casamentos reais tinham esse poder, assim como Jogos Olímpicos e Paralímpicos e, claro, o futebol.
Qualquer um com mais de 30 anos lembra-se de que pouquíssimas partidas eram transmitidas ao vivo. Agora, apesar de estarmos “afogados” em futebol, nosso apetite desconhece limites. Fãs de futebol são consumidores e os hábitos de consumo evoluíram. A maior prova disso é que uma tela só não é mais suficiente.
A tecnologia digital é a maior aliada dos consumidores de futebol. Podemos comer, dormir e twittar futebol. Por sinal, twittar futebol ultrapassou limites durante esta Copa: a semifinal Brasil x Alemanha teve 35,6 milhões de tweets durante o jogo, batendo o recorde de quase 30 milhões do último Super Bowl. A própria final teve pouco mais de 32 milhões de tweets. Mas os números mostram que a Copa do Mundo é momento em que o consumidor de futebol se sente mais completo.
Até nos maiores estádios do planeta apenas 90 mil pessoas podem compartilhar da experiência do futebol no mesmo local. Por isso, não dá mais para acompanhar esporte sem uma segunda tela. Ela faz o trabalho da primeira tela, que costumávamos chamar de televisão. Seja no smartphone ou no tablet, é a ferramenta pela qual nos conectamos à comunidade do futebol.
A segunda tela tornou-se a tela principal. Você pode assistir, falar, ouvir, ler, escrever e até apostar por meio dela. Uma pesquisa feita pela ESPN revela que fãs de esporte têm 33% mais chance de ser “multitelas”, sendo que 21% já utilizam o recurso regularmente enquanto assistem a um evento ao vivo. Números que crescem, pois só o aplicativo oficial da FIFA para a Copa do Mundo teve mais de 70 milhões de downloads.
A geração segunda-tela também aprendeu a ser multivisão. Duas ou mais telas são comuns para se sentir imerso em um grande evento. O Mundial 2014 é o primeiro evento global de futebol desta geração. As pessoas assistem, jogam e interagem com os amigos ao mesmo tempo. Parece ficção científica, mas para quem foi criança nos anos 1970 já estamos vivendo o futebol Star Trek.
Em 2018, talvez não seja necessário ter um ingresso para aproveitar a Copa na Rússia. Por uma tela ou quem sabe outro dispositivo que será lançado em poucos anos, a Copa do Mundo pode chegar a outros países como uma experiência tridimensional, mesmo sendo jogada a milhares de quilômetros de distância.

Sebastian Coe é presidente da CSM e do Comitê Olímpico Britânico